DEUS

Deus... Há muito tempo ouço falar de ti por aí

Cada um lhe pintando à sua imagem e semelhança,

Como se fosse possível colocar-lhe em um caixinha de sapato e manipulá-lo em nossos laboratórios.

Presente em fantasias mesquinhas de grandiosidade, de discriminação, de poder e desrespeito.

Fizeram de ti um comércio, um status, um grande juiz que nos massacra até quando pensamos.

E por que oras pensamos? Somos autocriadores e escolhemos pensar?

Ah! É tudo culpa do jardim do Éden, da Eva, da cobra, do satanás criado, da... da...

E todos correm velozmente em busca da chave que destranca a prisão, do segredo da salvação, da religião mais coerente, da tradução mais adequada, do caminho certo, até da dor mais dolorosa, só para garantir que não se arderá no lago de fogo – um dia criado.

E tudo começou porque desobedeceu? Não. Sejamos claros: porque pensou.

E a vida voa...

Humanos loucos de vontade de ter um Deus pai – o arquétipo do desejo, a cura da insanidade, porque não conseguiria suportar o desamparo e respectivamente a responsabilidade que em si carrega.

Deus pintado na angústia e no anseio de cada alma, na atemporalidade psíquica, nos sintomas de lutos não elaborados.

Alguns se enfurnam em templos para aliviarem a culpa dos ombros, outros tentam ignorá-los da própria consciência.

Mas, sempre estás ali, em algum lugar, no ponto exato da incompreensão dos fatos, pois tudo o que não se compreende, atribuem a ti... e em silêncio recolhes a doce ilusão do ser humano que faz-lhe o seu espelho de consolo ou de terror.

Desculpe-me Deus, mas há muito ouço falar de ti por aí...

Dizem que não podes permitir que lhe questionem, como se tu fosses alguém que receasse ser contrariado. Não acredito que o criador da maior engenhosidade pensante “o cérebro” (que o ser humano é incapaz de recriar), se submetesse a tamanha mesquinhez.

E porque criaria tamanha grandiosidade se não permitisse usá-la? Poderia simplesmente programá-la e acima de tudo não a lançaria para a destruição eterna.

Enquanto o via a imagem e semelhança dos outros, jamais poderia ver-te em mim. Quando vi tua real imagem, respirei aliviada, pois o “Deus” que até então me condenava era aquele que não me conhecia... estava sempre na ponta da língua alheia, nas infinitas interpretações, na manipulação da religião dominante, no olho do poder...

Saístes dos livros pesados, da lábia tendenciosa, do fardo ineficaz, das placas religiosas;

E estás aqui: tão leve, tão simples, sem exigências ou ditaduras, pois só o teu toque suave é que dá paz à alma...

Jacqueline Campos Rojas
Enviado por Jacqueline Campos Rojas em 16/04/2014
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