Reflexões sobre a fé

Domingo de reflexão. Tenho observado o crescente número de pessoas que procuram a religião como um caminho para sua vida. Da mesma forma que cresce a espiritualidade, o que é bom, cresce o fanatismo, o que é ruim.

Tem pessoas que frequentam igrejas e templos, decoram a bíblia inteira, citam passagens dos livros santos a todos os instantes de sua vida. Colocam toda a responsabilidade de viver nas mãos de Deus. Lembrem-se que se você não fizer a sua parte, não há oração ou sacrifício que te aproximem do que busca.

Fica a pergunta. Como andam as ações destes indivíduos? Será que suas palavras correspondem às suas atitudes? Será que participam de movimentos ou entidades de apoio às pessoas necessitadas? Será que apenas rezam ou também realizam?

Será que creem que todas as suas respostas independem de sua capacidade de pensar, duvidar, questionar?

A fé é uma força poderosa, mas se não houver movimento de ação, não removerá sequer um grão de areia, quiçá uma montanha.

No meu entendimento, a religião não salva ninguém, não cura ninguém, não melhora ninguém. Rezar não basta. Tem que agir. Conhecer as passagens bíblicas não torna ninguém melhor sem que melhore a si mesmo através do autoconhecimento.

Respeito todas as manifestações de fé, sejam elas cristãs ou não. Mas respeito mais ainda quem respeita o próximo e é capaz de ouvir e discernir. Respeito o pensamento que constrói e se expande. Quem decora, não aprende. Quem repete o que ouve ou o que lê sem meditar sobre o que está sendo ouvido ou lido não tem senso crítico. Eis o perigo da fé mal direcionada: a eliminação da capacidade de raciocício e do bom uso do live arbítrio.

A fé verdadeira, no meu entendimento, não deve ser cega. Ao contrário deve nos abrir os olhos e nos dar clareza de visão. A fé não tem dono, não tem dogmas e independem desta ou daquela religião. A igreja não tem portas, não tem muros, não tem líderes. A igreja é o indivíduo e a coletividade na sua prática diária em busca de um mundo melhor.

Aos que creem e praticam no cotidiano os ensinamentos de sua fé, meus respeitos.

Aos que creem cegamente e se tornam seres incapazes de pensar de forma mais ampla, minha preocupação para que não se tornem fanáticos vazios de compaixão com quem pensa diferente, que desprezam quem tem outras crenças ou crença alguma.

Pronto, falei! (Mauro Gouvêa)