Minha não poesia.

Amei a poesia desde cedo, e um dia quase acreditei-me poeta.

Ficou no quase, como tantas coisas nessa quase vida minha, na minha suposta quase felicidade do quase sonho de crer que há poesia em tudo.

Amarei a poesia sempre, porém sinto-me incapaz de empunhar a bandeira, de viver pela poesia, fazer dela meu reino.

Já tenho uma outra causa pela qual viver e mesmo por esta sinto que deixo a desejar, mas dediquei minha vida a ela e estou disposta a ir até o fim sendo leal à promessa que fiz. A poesia fará sempre parte de mim, mas realmente não me empenho em ser famosa, conhecida ou reconhecida. De verdade, descobri que o anonimato é onde sinto-me bem, sem exigências como se tivesse vendido a alma.

Cansei de tentar convencer-me de que fazia parte de um mundo onde eu era um estranho no ninho. Já recebi alguns convites para integrar alguns grupos e disse: "obrigada, não". Não desejo decepcionar ninguém e muito menos decepcionar-me. Em um momento a pessoa é honrada e no outro enxovalhada. Há promessa de não exigências e no mesmo instante, a pessoa começa a ver cobranças sutilmente incisivas que fazem toda boa intenção parecer covardia. Então decididamente aceito minha condição de não poeta com toda resignação que cabe-me e sem absolutamente nenhum ressentimento, nem arrependimento.

Meu quase livro ficará guardado na gaveta do tempo, amarelando as páginas para quem sabe um dia, em um tempo remoto seja aberta e uma brisa abra uma página diante de um olhar de ternura e apreço.

Por hora é só. Esse é meu momento de descansar a pena, deixar secar a tinta e que o silêncio aflore então! Talvez um dia, a poesia pulse tão forte que rompa as barreiras da velha gaveta embolorada e vibre.

Mas agora que fique bela adormecida, sem promessa de príncipe algum.

Repouse na paz do silêncio mais gritante, mais forte que a vida e a morte. Aqui jaz a quase poesia de mim.

Elenite Araujo
Enviado por Elenite Araujo em 01/12/2014
Código do texto: T5054489
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