A POLÍTICA E OS POLÍTICOS BRASILEIROS (Reflexões)

A menos que, de algum dicionário da lingua portuguesa conste que político é sinônimo de ladrão, podemos deduzir, sem dúvida, que nos poderes da República Federativa do Brasil, é, muitas vezes, difícil distinguir aquilo que não é sinônimo.

Se a desonestidade fosse considerada uma virtude, certamente encontraríamos na elite política brasileira uma plêiade.

Se político fosse eleito para cuidar da coisa pública, com doação de seus esforços em benefício de todos, não haveria tantos candidatos concorrendo às vagas abertas nas eleições. É que, ganhando as eleições, boa parte dos benefícios prometidos a todos se transfere para eles mesmos. E o futuro deles está garantido.

O político, uma vez eleito, mesmo considerando as responsabilidades que deveria assumir, já começa a planejar a sua reeleição. Deve ter bons motivos para fazer tamanho sacrifício. Talvez alguns deles sejam altruistas. Estes, entretanto, terão dificuldades em se reeleger.

Geralmente o político é eleito às custas do dinheiro alheio. Uma vez no cargo, continua a embolsar, de alguma forma e disfarçadamente, o dinheiro do alheio. E a sociedade, ingenuamente e de boa fé, não percebe e o reelege.

O povo brasileiro, de forma quase unânime pela maioria dos mais lúcidos, que no seu conjunto são minoria, sabe que o caminho para a sua ascensão social e econômica reside na educação de qualidade. E é exatamente nesse quesito que os governos, em todas as suas manifestações, dão tanta ênfase, mesmo já tendo, como propósito não declarado, o desejo de que aquele caminho não se concretize. Essa manipulação resulta em benefício para os próprios governantes se perpetuarem no poder.

A ignorância é a pior chaga que ainda atinge a humanidade, porque ela praticamente aniquila a maior expressão de liberdade do ser humano, que é a sua capacidade individual de pensar. Porque essa liberdade não teria meios de ser suprimida, por mais autoritário que seja o regime. Entretanto, um sistema político perverso consegue a proeza de tolher aquela liberdade, ao privar boa parte do povo da oportunidade de crescimento e discernimento, por quase absoluta ausência proposital de um sistema planejado de educação, instituído como uma política de Estado. Preferem os governantes que tudo assim permaneça, porque essa situação facilita suas ambições pessoais. Enganam o povo quando, não lhe proporcionando oportunidade de crescimento pessoal, lhe saciam a fome e o condenam ao obscurantismo absoluto.

Atribuir as mazelas em que vive o povo brasileiro a questões culturais na formação da nossa gente é um preconceito distante da verdade. A verdade está na esperteza praticada na política, que por poucos é percebida e pela imensa maioria despercebida. É despercebida pelos que não têm o poder de enxergar, ou até mesmo de refletir, dado o proposital interesse político em manter o rebanho sob seu domínio, ao lhes negar, dificultar, negligenciar ou restringir o acesso à informação pela via da educação, tornando esses desprovidos numa massa de manobra capaz de garantir os privilégios da casta que se apropria e se perpetua nos cargos do governo.

Se a maioria do povo brasileiro tivesse uma razoável capacidade de crítica, certamente os problemas da sociedade seriam encaminhados com maior seriedade e responsabilidade. Esta assertiva é válida para outras nações que ainda não conseguiram atingir um grau de amadurecimento suficiente para ter consciência de seus males e, por conseguinte, se deixam iludir até por ideologias já ultrapassadas, mas que o mundo ainda pode contemplar com alguns nefastos exemplos comprovadamente mal sucedidos.

Assim como, nos presídios brasileiros, acontece geralmente a promoção da periculosidade do detento, no ambiente político indivíduos de boa índole podem se converter em crápulas. A convivência contamina.

Se fôssemos apontar para uma classe de espertos, no mau sentido, a classe política estaria liderando a lista. E quanto mais tempo os políticos permanecem na política brasileira, mais se agudiza essa característica.

No Brasil, o conceito de democracia é algo destinado a proporcionar vantagens aos políticos. Quanto ao povo, ah, o povo, pelo menos ele serve para pagar as contas que proporcionam as vantagens indevidas e indecorosas das quais os políticos se beneficiam. Em compensação, oferecem ao povo pão e circo. Já é alguma coisa porque poderia ser pior. Poderia mesmo?

Augusto Canabrava
Enviado por Augusto Canabrava em 16/03/2015
Reeditado em 06/05/2016
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