MORTO VIVO

De que adianta tantos anos de vida, dez ou trezentos, a gente continua o mesmo, as pessoas continuam as mesmas, num ponto um sorriso, nem uma vírgula, um afago, mas em uma frase inteira, a raiva e o ódio desmorona sobre a gente. De que adianta viver confinado no quarto da confiança, se cercado de medo e descrença e batendo forte a sua porta? Meu maior medo é o meu futuro que se, por ironia, apresenta agora, porque cada dia que passa me penso e sinto mais fraco, impotente contra um amor que não ama, que apenas fere. Ser humano é ser inconstante, mas ainda assim, compreende e se compreende, mas o desumano, apenas prende. Como chorar como criança, um choro forte e verdadeiro, diante da dor da incerteza, das mentiras, quando já não se tem um sonho como conforto? Alguns remediam com um punhado de receitas, todas elas antigas e repetitivas, não curam, nem ao menos fingem curar. Outros matam a esperança matando o amanhã antes que o sol acorde o coração, antes mesmo que os olhos se abram. Está amargo e triste é tão normal como sorrir de uma boa piada, viver infeliz é tão comum e ao mesmo tempo antinatural como o preconceito, apesar da hipocrisia, por isso mesmo aceito como cultura de um dado momento. Hoje a depressão engole o olhar de vida com uma dor tão mortal como a solidão. Em nome dela, morre-se mais que a própria morte, porque está chega e acaba com tudo, a outra chega e apenas convive, lembrando a cada minuto essa circunstância, a de se estar morto, ainda que vivo.