Explicando meu escrever

Sendo poeta, ou ao menos pensando ser, despejo versos como quem confessa amores, crimes, sonhos, fraquezas, todas as coisas enfim que fazem de mim o que sou e o que não sou.

Já fui mais intenso, tanto na quantidade do que escrevo quanto na tradução de sentimentos. Hoje me contenho e me contento com coisa ou outra que consigo decifrar em mim.

Não escrevo por escrever, nem para ocupar espaço. Minha escrita é catarse do que sinto e do que penso que sentem pessoas outras.

Quando mais novo prestava mais atenção às coisas e gentes e transcrevi-as em versos bons e ruins. Tinha a curiosidade do espiar e expiava minha culpa pelo voyeurismo transcrevendo histórias que imaginava para mim.

Fui um grandessíssimo ladrão de sentimentos e vidas alheias. Hoje apenas cometo pequenos furtos.

Poucos versos hoje traduzem o que realmente sou e o que realmente sinto. Escrevo minhas personas. Sou um roteirista, um ficcionista em busca de rimas.

Não tenho mais a ânsia da adolescência de despejar amores e paixões, de gritar em palavras escritas as fantasiosas desditas da vida. Ah! Como o adolescente pensa que sofre... e neste sofrer singelo, mesmo que intenso, comete versos como tantos que cometi.

Talvez menos inspirado, escrevo com parcimônia e nem por isso melhor do que antes. Meus melhores poemas vieram como soluços, repentinos. Tudo o que me custa tempo acaba ficando guardado e posteriormente é mexido e remexido, perdendo seu sentido original. Não vale mais para o que valia quando nascido. É frio e calculado.

Assim vou escrevendo, cada vez mais raramente, minhas verdades e mentiras.