Perguntas Secretas - EC

Era uma pessoa difícil, seus problemas pessoais, íntimos e profissionais, a levavam ocasionalmente a um desequilíbrio embaraçoso, principalmente para aqueles com quem convivia. Seus subordinados sabiam que as decisões seriam chuva ou sol para a mesma questão dependendo de seu estado de humor. Assuntos seriam tratados com atenção, com menosprezo ou com excesso de questionamento de acordo com a qualidade do sono que tivera. Consequentemente não eram poucos os que a evitavam, ou não torciam pelo seu sucesso. Mas era tão simpática, eficiente e sorridente, por que não a amavam ?

Ocasionalmente como uma descarga antiga, daquelas com cordinha, uma torrente de consciência provocava remorsos. Hora da indulgência, todos recebiam um pequeno agrado, e finalmente era permitido voltar a sorrir. Notam com sou boazinha ?

Apenas seu travesseiro, confidente mudo, conhecia os seus pensamentos, suas dores, seus conflitos. Por vezes acreditava que o coração não aguentaria pulsar com tamanho peso sobre si. No entanto se considerava uma mulher de fé, mensalmente deixava uma farta contribuição na igreja, sua mesa sempre tinha imagens de santos, a Bíblia sempre aberta ao lado da cama, velas são itens de compra mensal, acreditava fazer muito mais que a maioria das pessoas. Já que doava tanto, por que parecia receber tão pouco em troca?

Seu casamento, suas roupas, automóveis, apartamento, e alimentação comprovam tratar-se de alguém muito privilegiada, que venceu na vida, que tem sucesso e reconhecimento. Mas por que chora em segredo? Talvez nem ela saiba. Com diversos psicanalistas já tentou se encontrar, mas nenhum tinha o fio de Ariadne que ela buscava. Inúmeras perguntas ignoradas. Quem a resgataria deste labirinto que apenas ela percorria?

Em seu carro se questionava sobre o que faz diante do espelho, estaria se maquiando ou se mascarando? De semáforo em semáforo finaliza seu ritual, ao qual é tão fiel. Antecipando o que já planejava para o dia, fez uma ligação solicitando à secretária uma série de relatórios urgentes, em breve chegaria e os mesmos deveriam estar prontos. Eis que seus olhos notam um morador de rua sentado com uma caneca entre as mãos respondendo com um sorriso ao bom dia de um transeunte. Havia felicidade em eu olhar, de forma bem íntima, parecia ser ali sua morada. Como? Diante de quase nenhuma higiene, convivendo com tantas privações e carências? Por que ao olhar para o espelho ela jamais pode ver aquele tipo de sorriso? Que tanto motivo teria ele para ser feliz? Certamente tinha algum déficit mental. Não merecia sua atenção! A cor verde liberou o trânsito e pode seguir seu trajeto, pronta para “enfrentar” mais um dia.

Certamente não tardaria a chegar, visto que o caminho da empresa era conhecido, seguro, bem sinalizado e ela jamais se perdia, diferentemente do que acontecia quando mergulhava em seu íntimo.

"Rico não é aquele que mais tem e sim aquele que menos precisa."

( Professor Gretz - palestrante motivacional)

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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Labirintos do Ser

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