Impressões

“Afinei os meus ouvidos pra escutar suas chamadas.

Sinais do corpo eu sei ler, nas nossas conversas demoradas,

Mas há dias em que nada faz sentido

E os sinais que me ligam ao mundo se desligam

Sozinho, no escuro, nesse túnel do tempo,

Sigo o sinal que me liga à corrente dos sentimentos,

Onde se encontra a chave que me devolverá

O sentido das palavras ou uma imagem familiar.

Mas há dias em que nada faz sentido

E os sinais que me ligam ao mundo se desligam

Eu sei que uma rede invisível irá me salvar

O impossível me espera do lado de lá

Eu salto pro alto eu vou em frente

De volta pro presente.”

(Túnel do Tempo – Frejat)

Tem um sentimento que às vezes me toma e eu não consigo identificar. Ou, melhor dizendo, não consigo nominar. Não sei o que é, mas às vezes, ele me toma e fica um tempo convivendo comigo.

Normalmente, ele se manifesta quando vejo fotografias de estradas, fotografias de cidades ou mapas de outros países. Fico pensando, imaginando que vidas levam as pessoas que por ali passam, ou ali vivem. Quem são, o que fazem. Como eu seria se tivesse nascido num país que não o meu.

Ontem, depois de cinco meses, encontrei com o Marcelo. Ficamos juntos até muito tarde. Conversamos muitas coisas, ele segurou minha mão, me namorou. E eu ainda reconhecia seu cheiro, seu gosto. Cada detalhe. Quando vim embora, o sentimento tomou corpo e assentou-se dentro de mim. Por que, tendo eu motivo para estar bem, fui invadida por ele? Ao olhar pelo retrovisor, vendo o Marcelo na calçada, acenando para mim, fui invadida. E todas as vezes que eu olhava o retrovisor e via a rua vazia, as casas que meu carro ia deixando para trás, meus olhos meio que sentiam vontade de chorar.

Não sei se gosto disso. Às vezes, o sentimento não me incomoda. Ele fica ali e eu cuido dele como se cuida de um peixe. Alimento uma vez por dia e troco água a cada quinze.

Acho que o que me falta, hoje, é um amor. E esse sentimento-irmão, talvez, seja solidão. Quem é que sabe? Acabo por esperar ou procurar a rede invisível que me salvará. E, que do lado de lá, esteja o possível me esperando.

Margot Jung
Enviado por Margot Jung em 10/08/2007
Código do texto: T600921