Beijo, simples?

Beijo, este gesto tão simples, ainda que tão complexo ao mesmo tempo; duas (ou mais) pessoas que, naquele instante, compartilham as existências. Uma troca, na qual cada um, com seus traumas, suas vivências, seus sonhos, almejam apenas estar junto e ser e prover prazer a quem mais estiver envolvide. Beijo, que deveria ser tão simples quanto, ao menos, duas bocas que se encontram e se calam, sendo nada mais que sensação, desejo e prazer. Beijo, que deveria ser simples, mas não é. Beijo, que coloca meu corpo em jogo, que me obriga a encarar minha disforia e manda-la para longe durante os segundos que se prolongam. Drogas, que me munem com um destacamento, tornando esta batalha mais fácil. Minha (a)sexualidade, que traz junto de si a necessidade de, tendo uma libido próxima de zero e que se soma com a disforia, a confiar naquele outre à minha frente. Medo, pois nesses instantes este outro sujeito possui a capacidade de fazer eu me sentir mulher; eu sei, ser mulher não está ligado a nada disso; contudo, nesse momento minha disforia toma conta e me faz sentir o contrário. Mas tudo bem, estou cansado de pautar minha vida no medo, que me impede de viver. Acho que toda tentativa é válida; quer dizer, pela primeira vez alguém fez eu me sentir como EU ao partilhar, momentaneamente, meu corpo. Não há motivos racionais para crer que estando sóbrio seria diferente.