Flora

Se pudesses ver o quão tua alma transborda desses teus olhos cativantes.

Os quais evito cruzar com os meus pois não teria dificuldades em ver a fragilidade que a mim impõe. E se me expusesse teu sorriso, saberias que tua boca me arrepia e teu toque me comove. Perceberias que quero escutar teu silêncio e saber exatamente o que revelas teu humor. A intimidade de adentrar mais que seu corpo, fazer parte dos teus versos. E se me ferisse, seria um prazer ter conhecido os segredos da carcaça que és teu corpo. A nudez mais prazerosa.

Mas não me atrevo.

Intimidas. Cala.

Não pretendo lhe invadir, nem arrancar tuas verdades. Então mesmo que lhe toque a mão com as pontas de meus dedos, ainda assim terei cautela. Ser intrusa não cabe a mim.

Desejos contrapostos. Tudo se entrelaça. Me entrelaço a ti. Na doce desventura de não saber como desatar-te

Sem desfazer os nós.

Privo-me dos desejos.

das malícias.

do admirar-te.

do afeto.

Pois acima de tudo, és pássaro. E reservo a mim a prudência de saber que bate as asas melhor quando não há olhares na espreita.

Patrícia Campanholo Pereira
Enviado por Patrícia Campanholo Pereira em 24/09/2018
Reeditado em 24/09/2018
Código do texto: T6458608
Classificação de conteúdo: seguro