CONVICÇÕES "MUTATIS MUTANDIS"

A convicção é um substantivo feminino, que abriga uma crença ou opinião firme a respeito de algo, com base em provas ou razão íntima, ou ainda, como resultado da influência ou persuasão de outrem, provocando o convencimento, que culmina em uma opinião obstinada acerca de alguma coisa, seja ela concreta ou abstrata.

Entretanto, a convicção não é assim tão nítida e irrefutável como pode parecer. Na verdade, os mais precavidos podem considerar a convicção como um instrumento flexível, que, assim como tudo, está condicionado à evolução, e ela pode ser baseada, transitoriamente, nos verbos “acreditar” ou “conhecer”.

A evolução é devastadora para a convicção, pois o que ontem era uma questão líquida e certa, indiscutível, hoje, em função de novas descobertas, novos conhecimentos, pode tornar-se num absurdo, o que nos revela que as crenças e até o conhecimento podem ser alterados, modificando as convicções. Isso pode ser chocante, como por exemplo, a descoberta de que a terra é redonda, cujo paradigma surgiu na filosofia grega no século VI a. C. com Pitágoras, ou que a matemática não é precisa e exata, segundo o Teorema da Incompletude de Godel.

Estamos observando com frequência, no nosso cotidiano, contendas acirradas, às vezes com falta de respeito mútuo, em torno de convicções arraigadas nos contendores, que reciprocamente se consideram senhores da verdade absoluta. Esses gladiadores devem atentar para o fato de que o relógio, o peso e o metro, instrumentos de medição, não têm precisão absoluta, assim como não é possível determinar, ao mesmo tempo, a posição e a velocidade das partículas subatômicas, conforme o Princípio da Incerteza de Werner Heisenberg, tudo em função da constante e ininterrupta dilatação e contração da matéria, e também do constante e ininterrupto movimento e pulsação do Universo. No âmbito da metafísica, o Apóstolo Paulo, um tenaz e violento perseguidor de cristãos, tornou-se o mais fecundo dos Apóstolos do Novo Testamento, e uma rica fonte da sabedoria espiritual.

Com efeito, o bom senso nos indica que devemos construir as nossas convicções, porém, sempre conscientes de que elas são flexíveis e transitórias, pois estamos todos envolvidos pela evolução. Assim, conduzidos pela dignidade, teremos a coragem e a integridade ética e moral, no nosso foro íntimo, de alterar as nossas convicções, tantas vezes, quantas vezes os novos conhecimentos e as novas experiências o determinarem, sejam elas concretas ou abstratas, de natureza racional ou espiritual. Estaremos em paz, perante o imutável Tribunal da nossa Consciência.