NA CIDADE DA REFLEXÃO

 (In memoriam de minha tia Lourdes)


"Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque ali se vê o fim de todos os homens; e os vivos o aplicam ao seu coração."
Eclesiastes 7:2


Visitei à cidade dos mortos
O bairro dos esquecidos
O país daqueles que jazem
Onde se acham que ali encontrarão a verdadeira paz
Como uma cidade idêntica:
Têm ruas, esquinas e números.
Pode ser considerado um reino ou um império,
que cada dia mais se expande suas partes térreas,
lugar onde absoluto reinam os vermes;
...estou falando do cemitério.
Um lugar lúgubre,
onde um dia todos terão que ir morar.
Ali se vê o fim de todo homem
Ali se encerram os sonhos e deteriora a matéria
Sábios, tolos, justos e ímpios:
todos embolados e misturados na terra.
Suntuosos mausoléus ou modestos túmulos,
dividindo o mesmo espaço, no âmbito da morte.
São as últimas tentativas de distinguir
entre forças e poderes,
entre ricos e pobres.
Porém todos ali se compartilham dos mesmos elementos:
A podridão e depois o pó;
fazendo-se todos iguais.
A morte resseca como as passas,
come que nem as traças.
E ali tudo se passa:
seus planos, seus amores
seus hobbies, suas vaidades;
tudo embaixo de uma lajea fria.
A suas ideias e suas riquezas que ficarem
vagarão talvez em mãos pródigas.
Então este pródigo, agora ainda vivo, irá se aproveitar
até o seu próprio dia também chegar.
E quando, pra mim, esse dia chegar?
Qual será a minha epígrafe mortuária?
Lembrarão o que na minha lápide?
E meu epitáfio... terão consideração?
Foi isso que me passou na cabeça,
depois de ter saído da Cidade da Reflexão.





 

Nota: Fiz este poema faz uns três anos, depois de ter saído do enterro da minha querida tia. 
O rei Salomão disse ser melhor ir a um velório do que um churrasco (traduzindo para nossa linguagem). Porque onde se está velando um morto, ali se vê o fim de toda vaidade e que não se leva nada. A morte traz reflexão.
Ontem foi o sepultamento de um amigo e irmão, João Paulo. Faleceu depois de envolver-se num acidente de moto com um ônibus. Rapaz jovem, 34 anos.
Faço essa homenagem (à minha tia e ao meu amigo) trazendo essas reflexões sobre a morte em alguns poemas.
 
-In memoriam ao campeão de Cápua
-Morte
-No corredor da morte (a vida de Marcos Archer)
-Vida
-Na Cidade da Reflexão