REGISTROS DE DESAVERBAMENTO

São recordações digitais que eu acompanho e que se acumulam no sem espaço desta disposição, palavras que vão sendo ditas e se perdendo no mar de outros registros, permanece sempre meio viva e meio morta a ideia de rebuscá-las...

Para quê? São saudades de tempos idos, momentos em que os sentimentos eram claros ou obscuros, mas eram verdadeiros. Se os olhar hoje não verei mais que a sombra do que um dia fora e é capaz de não entender o que foi dito, se é que um dia entendi.

Quererás recordar as amargas lembranças? Arriscarás ter a consciência de ser tolo? Por acaso quando olhas nos olhos das pessoas já não lembras, com a bílis inflamada, os rompantes de amor e ódio que dantes lhes aproximaram e separaram em cortes vivos de displicências?

No entanto, tudo continua ali se você for atrás, encontrarás não mais aquela conversa, obterás o quê de abstrato que ela conversar e só, abrirás antigas feridas e martelarás, com o peso do passado, na cabeça antigos ditos, não é só se ferir duas vezes, é morrer de novo a mesma morte.

Quantos amores eu matei que no passado estão vivos? Nada mais tolo que voltar onde o amor nunca morre, onde ele não é uma febre que passa, um copo que se escassa, um cigarro que se esfumaça. O amor na lembrança é rio que não naufraga, nó que não desata, sorte que se azara.

O cemitério do esquecimento é para onde a lembrança foge pra se morrer, todavia lá reina o evangelho da comiseração e o amor dá refúgio a quem deve permanecer morto; tal é guardar recordações na palma da mão, marcar no corpo o que foi vítima.

Nada mais fatal que a separação, urgente late como o cão que pressente o assalto, ao morrer a esperança sempre crerá na ressurreição: tornamo-nos então ateus em nossas convicções, dê-se fim nos diálogos, diários e conversas de Whatsapp, ao limbo com tudo! Permaneça o silêncio dos mortos.

É onde eu vivo.

Diego Duarte
Enviado por Diego Duarte em 24/06/2019
Código do texto: T6680695
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