O Poder da Ironia, ou o dia em que fui chamado de fascista!

Ontem tive uma experiência um tanto quanto inusitada ao comentar o conteúdo das novas denúncias do Intercept em um post no facebook. Para comentar a denúncia utilizei-me de um recurso muito comum na filosofia que é a ironia.

Sabemos que no Brasil a polarização política anda muito acentuada e radicalizada. A despeito disso, e falo isso com a maior tristeza, vivemos em um país muito frágil culturalmente e intelectualmente. Nos últimos 30 anos tivemos uma massificação nas redes de ensino, ganhamos em quantidade, mas não necessariamente em qualidade. Tivemos também a popularização da internet que hoje está nos mais diferentes meios, outra vez, ganhamos em quantidade, mas não necessariamente em qualidade. Vivemos em país onde as pessoas leem pouco ou quase nada, não sabem interpretar um texto e não sabem fazer um cálculo básico. Esse é o retrato do nosso país! São muitas informações e pouca capacidade de assimilação.

No post do facebook, me vali da ironia que era um instrumento muito utilizado pelo filósofo grego Sócrates. Sócrates também viveu em um ambiente político muito polarizado, como o de hoje, dominado por Sofistas, defensores de formas políticas autoritárias e antidemocráticas, pessoas que não tinham muita preocupação com a verdade, mas estavam apenas preocupadas com as aparências e com o convencimento. O parecer era melhor que o ser. Curiosamente esse ambiente em que Sócrates viveu é bem semelhante ao ambiente que estamos vivendo hoje. As aparências contam mais do que a essência, tanto é verdade que as pessoas não se preocupam mais com as essências, não se preocupam mais em estudar nem entender nada, são imediatistas. Por isso mesmo as redes sociais fazem tanto sucesso, pois tudo é resolvido com poucas palavras, ou um meme. As pessoas não estão mais preocupadas com a aletheia, mas estão preocupadas com aquilo que lhes convêm. Quando a verdade não pode mais ser enfrentada de frente utilizamos a ironia. Para fazer com que o seu o interlocutor chegue as conclusões que você quer que ele chegue, você fala o contrário do que ele esperaria ouvir adicionando aí alguns absurdos. No caso, a minha ironia foi direcionada aquelas pessoas que são defensoras ferrenhas do Sérgio Moro, da Lava Jato, considerando estar acima de qualquer suspeita, mesmo com os fatos flagrantemente delituosos e com denúncias que parecem ser a cada dia mais robustas. Escrevi três posts no contexto da reportagem e na sequencia fiz o esforço de explicar que era uma ironia.

Pois bem, como é de praxe no Brasil, as pessoas no geral não leem, independente do espectro político em que estejam. E aí a crítica deve ser séria e sincera. Simplesmente tiraram o post do seu devido contexto e saíram divulgando com uma verdade absoluta. Por mais que eu tentasse explicar que era uma ironia, menos as pessoas entendiam e pior, muitos nem sabiam o que era uma ironia.

Nós estamos em um país muito polarizado de forma que as pessoas estão com muito ”sangue no olho” e isso é muito perigoso e um campo fértil para formas de governo autoritárias. Ninguém mais quer ser contestado ou criticado estão tão preocupados em criticar o outro que ficaram cegos com a relação a si mesmos. Onde está a empatia? As pessoas estão se tornando cada vez mais coisas e as coisas estão se tornando cada vez mais pessoas.

Na realidade o post que eu fiz expressava o pensamento de uma boa parte da população brasileira (em minha opinião, infelizmente representa) Mas ninguém está preocupado em entender a situação, mas sim atacar.

Essa é uma crítica sincera, porque também me coloco no meio desse bolo. Ironicamente cheguei a conclusão que estamos caminhando para um rumo nefasto e que algo precisa ser feito, independente do espectro político. Espero que as mesmas pessoas que compartilharam o post erroneamente compartilhem este texto. Conclamo a todos também para uma reflexão: que tipo de sociedade estamos criando para os nossos filhos? Autor: Fabiano Joaquim da Costa.

jcosta
Enviado por jcosta em 16/07/2019
Reeditado em 08/08/2019
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