Abismo

Vivemos cercados por coisas  elas tem  presença universal não  temos    como apreendê-las em sua totalidade. Des (oriento-me) em meio à floresta de objetos que me cercam, entretanto não posso modificá-los, eles tem existência própria. Existem antes mim. Quem sou eu com meu pensamento limitado a querer duvidar dessa constatação a que chamamos realidade. As coisas estão ali e aqui, muitas delas modificadas pelas mãos do homem na miríade de objetos artificiais, entretanto meu pensamento jamais produz alguma coisa. Apesar de aparentemente achar que tudo é artificial, que tudo é criação humana o homem só as transforma por intermédio da técnica. Vejo um gato no lixo - a lixeira é uma objeto feito  pelos homens a partir de materiais distintos, o gato é um ser criado, ele é a imagem eterna de todos os gatos famintos procurando por comida desde a origem de todos os gatos. Penso onde está a verdade nesse mundo tão caótico dos objetos talvez no pequeno cachorro da senhora que passeia com ele e me cumprimenta gentilmente, ela e o seu bichano  são criaturas. O cão urina na árvore que foi criada, mas plantada ali pela ação dos homens. Já um poste de eletricidade a ordenação das cidades  é criação humana. Uma  floresta entretanto  não foi feita para atender as necessidades humanas. Nela  sou somente eu e minhas referências  a lutar numa realidade  hostil. Esse mundo das  coisas que dizemos realidade não é tão uniforme a ponto de darmos um parecer definitivo sobre ele. Existiria uma verdade em meio a caoticidade das coisas? A verdade se sustenta como as tábuas sustentam um naufrago antes de sucumbir. A única verdade que tenho é que existo e percebo o mundo circundante.  Saio até um parque próximo e me encontro sozinho entre o mundo das coisas, o silvo dos pássaros me encantam, um fio de luz me ilumina, um vento breve alisa minha cara. Sei que não tenho poder sobre a plenitude que é a vida com toda sua força e luz. O mundo da ciência com seus recortes estanques da realidade mensurados, a objetificação dos entes abstratos tudo isso nos dá a falsa ilusão de que a ciência é a única verdade sobrepondo-se a todos os outros saberes, mas há um abismo entre o pensamento racional e as coisas. A realidade se apresenta a partir da intermediação dos artefatos técnicos que se espalham e há uma dicotomia entre o mundo das coisas e a vã pretensão da ciência de mapear todos os recônditos do mundo e da alma humana. O ocidente ainda se divide entre o mundo espiritual do pensamento das artes, da cultura e da filosofia e o recorte dos objetos  da ciência que não é a realidade, mas projeções  da mesma sem conexões entre si. Tentamos dar sentido e ordem as nossas existências, mas o mundo exterior nos é hostil, esta hostilidade nos fez criar a técnica que reúne elementos irredutíveis que convergem para um resultado com finalidades práticas, recriar, a partir de uma ideia, concepção um objeto final com fins úteis, mas o criado está dado e não depende de nós. Nesta perspectiva somente uma porção da realidade se apresenta, mas não por inteiro, apesar do pensamento produzir ideias e pensarmos que as coisas se apresentam por inteiro, certas coisas são impensáveis e inacessíveis e inapreensíveis ao conhecimento humano com sua limitação e obstáculos internos. Assim sigo a pensar que entre o pensamento e realidade há um abismo e isso não é de todo ruim porque assim restam os mistérios, a arte, a fé a filosofia e outros modos de apreender a realidade. Talvez o encanto do mundo resida nisso.
Labareda
Enviado por Labareda em 12/10/2019
Reeditado em 13/10/2019
Código do texto: T6767652
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