(A)mor(te)

Que monstro é este que chamamos de amor? Digo: Consumação interna , quase uma autofagia no âmbito do sentir e do pensar. Será que somos tentados à posse do outro? Ou será que há um alerta à possibilidade de ser objeto/sujeito de um certo alguém? Ora, quando nos tornamos tão frágeis?

Sartre disse que o inferno são os outros. Então somos todos chamas torturantetorturantes num estado de reciprocidade destrutiva; somos paradoxos que abarcam vitimismo e crueldade , súplica e dissimulação; somos opressores encarnados em corpos pulsantes.

No entanto, o pior, aparentemente, é o estágio de consciência do patético estado inebriado por um afeto paralisante; ciência inútil de permissividade : dá-se livre passagem à afetação da rotina, ao agitamento interno, à perda de tempo no devanear. O ambiente do pensamento torna-se catástrofe. Ora tudo isso não configura um ou mais sinais de declínio? Como podemos ousar dizer, abdicando toda sensatez e bem querer de si, que o amor (Re)vigora e soma? Não obstante, é mesmo adicção: não passa de efeito de vício, gerado da injeção feita por nós do veneno que é o outro, que se mistura ao veneno do não existir, da tendência já inscrita do tornar-se um ser em si.

Abraão Rodrigues
Enviado por Abraão Rodrigues em 08/11/2019
Reeditado em 08/11/2019
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