DOIDINHO?

Quando pequeno era muito só. Brincava só e curtia essa viagem de arquitetar castelos e metrópoles fantasiosas num mundo inventado e presumível para uma criança, micro habitante de São Paulo, atrás de muros e protocolos. Meus irmãos, gêmeos de nascimento, ainda não acompanhavam a velocidade com que minha mente reproduzia quadros coloridos e totalmente desprovidos de pretextos lúcidos e congruentes. Eu era uma oficina do idealizar e isso assustava minhas sublimes professorinhas, que prontamente gritaram a precisão de acompanhamento psicológico. Minha mãe, completamente terrificada com o filho imaginativo, pôs-se a arriscar me entender e figurar aquilo que eu cunhava de feitio tão natural e recorrente.

Criar era meu problema!

Imediatamente fui tomado como moleque improvável, em casa e na escola, o que era prosaico porque me dava uma aura de “especial”, intuitivo ou ainda chato e mimado. Uma delícia pra um garoto dessa idade, vocês devem imaginar. “Cuidado com esse menino, ele é muito criativo, cheio de querer inventar… ele é perigoso, doidinho!”.

E eu era mesmo! Um liquidificador de ideários que não descontinuava em momento algum de produzir tortas condimentadas pelas mais impensáveis alegorias que o imaginário pode brotar. E tudo na minha existência tinha, teve e tem, adereços realçados e impactantes que sempre sustentaram um de meus pés na Terra do Nunca ou no País das Maravilhas. Esse sou eu!

Síndrome de Peter Pan? Pode ser! Quem sabe a minha última (porque já abandonei) terapeuta acertou em sua rotulação dispensável e ínfima?

Cheguei à conclusão que não sou só eu que carece aprender a coexistir com os outros. As pessoas perdem em alto grau pelo fato de não buscarem conviver adjacente a esse Jerico.

Mas quem não quer inventar uma realidade adornada, colorida e imaginativa pra volitar?