Luto
Estava aqui deitado antes de levantar (ou de dormir, já não sei mais) e pensando...
Como é complicado as relações humanas, uma coisa que por si só já é complexa. Pra mim, acaba sendo muito mais porque tenho uma necessidade "patológica", devido ao luto nuclear das minhas relações familiares.
Conviver com o luto, é uma coisa de infância pra mim, que só vem se intensificando conforme amadoreço, conforme as relações ficam mais complexas, isso é difícil, doloroso, me colocar em um lugar seguro de me relacionar com outras pessoas, quando o medo de perde-las grita em minha mente a eminência do fim de cada relação. Eu adotei um gato filhote e no primeiro mês tive medo que ele morresse... Isso é um exemplo. Doloroso pensar que minha mente pode distorcer diversas coisas só pra tentar suprir minha necessidade de afeto. De afeto familiar.
Tenho hoje 24 anos e a maioria das pessoas com quem convivi na infância, morreram ou simplesmente não fazem mais parte da minha vida. Amigos, embora na minha infância e adolescência não houvesse relação com os vínculos virtuais como em 2020, mas mesmo meus familiares faleceram ou estão distantes de modo que a aproximação jamais reestabeleceria laços como eu via na infância (eu não sei como é a sensação de chegar na casa de um parente e me sentir em casa, me abrir totalmente como seria se tivesse minha mãe). Eu me acostumei a me considerar popular na escola e até na faculdade, embora sempre soube que as pessoas com as quais minha popularidade se relacionava, não eram minhas amigas no sentido mais íntimo de amizade. De fato não passava de uma capacidade adaptativa de conseguir dialogar com as mais diversas realidades, em níveis superficiais. E nas vezes que uma ou outra pessoa se mostrava disposta, e quando essas relações se estreitavam, até hoje eu sempre experienciei o luto do fim dessas relações. Eu digo o luto, no sentido literal de perder uma pessoa de sua vida, porque uma relação depois de tomar determinadas proporções de intimidade (entenda-se afetiva, não sendo necessariamente carnal), na minha experiência sempre marcam para a vida. Mesmo que a distância não seja completa, o resquício de consideração existente é fruto de um vínculo profundo anterior que já não existe mais, e isso, é isso que machuca, a dor de perder um vínculo de confiança, de intimidade, de afeto. É isso que provoca o luto. Essa perca que se equipara ao fim de uma vida.
Eu já sobrevivi a perca dos pais, eu já sobrevivi a perca dos avós (que foram figuras ligadas intimamente a minha formação de pessoa), eu já sobrevivi a perca (por morte) de amigos que eram espelhos, inspiração. Não sei mais ao que resistirei. Eu tenho medo de perder (por morte, ou pior, por distância), os poucos (bem pouco e que não zombam [só há uma pessoa no mundo que pode entender a referência dentro desses parênteses]) amigos que me restam, que são pessoas em que vejo algum nível de intimidade e sustenção, esse medo é real, é vivido todos os dias. O luto, apesar de tão familiar pra mim, não é algo que eu posso dizer que tenho o domínio, na verdade já percebi que ele me domina, que me faz literalmente definhar, e eu já vi isto acontecer, não foi bom. Em uma esperança estritamente evolutiva de auto preservação, eu já me debrucei em me questionar "como fazer amizade?" Já foi algumas vezes tema nas minhas (agora mais de um ano ininterruptas) sessões de terapia psicanalítica. Eu sinceramente não sei. Eu sinceramente nem sei onde vou chegar ou até mesmo se vou chagar... Tenho mais recentemente me questionado sobre sentido de vida, na verdadeira necessidade de conseguir encontrar um pra mim mesmo. Em uma busca que eu mesmo não sei de dizer se é genuinamente minha ou só um reflexo evolutivo de auto preservação. Pensando apenas que em meio a tudo isso "eu pago meus pecados por ter acreditado que só se vive uma vez" sabendo que eu me tenha alertado sobre isso enquanto ainda era tempo, e que apesar de tudo "eu sei guardar (mas talvez não saiba) a minha dor" e que "isso é o que resta a um homem, inundado de sentimentos"... Como dormir a noite? Tentando não pensar na letra de Do I Wanna Know. Já é tarde...