Condução

Primeiro dia

Eu lendo "Frankenstein", ela "Divergente". Ao entrarmos no ônibus fomos presenteados com dois lugares para os nossos corpos; nossas mentes há tempos estavam bem acomodadas em nossas leituras. E fomos, lado a lado, em direções diferentes.

Dou uma pausa em minha tentativa de acompanhar a infelicidade e solidão daquela criatura. "Aquele movimento nos lábios dela seria algo para eu me agarrar, ou eu poderia estar me deixando levar pela ilusão?", pensei. O significado daquele meio lábio feliz pode ter se transfigurado na totalidade das minhas incertezas.

Segundo dia

Tamanha é a inveja que sinto ao notar suas mãos, tão lindas e delicadas, segurando-o com tanta vontade e paixão. Enquanto que, nele, seus olhos e sua mente se mostram, a mim, como que hipnotizados. Quem me dera arrancar do seu peito suspiros tão profundos...

Em minha mente vislumbro seu coração crescendo. Já não resta espaço para um pulmão no lado esquerdo. Entendo as disposições do seu templo sagrado. E acabo descobrindo que em cada suspiro existe um grito abafado não de clemência, mas de prazer.

Último dia

Algumas vezes já pensei: será que, em algum momento de nossa curta viagem, nossas mentes se entrelaçaram e se fundiram ao passarmos os olhos pelas mesmas palavras?

Mesmo que em contextos distintos poderíamos já ter passeado, não de mãos dadas, de almas unidas.

Diego Crevelim
Enviado por Diego Crevelim em 01/04/2020
Reeditado em 16/09/2021
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