solilóquio - I -
...
“e, enquanto não me descobres, os mundos vão navegando nos ares certos do tempo, até não se sabe quando... - e um dia me acabarei.”
Cecília Meireles.
em solilóquio:
há momentos que me levam a pensar
além, como se fosse possível alcançar
o ato do outro pensamento, no entanto
o vento é sopro entre folhas, faz ruído
e espanta o pensamento. respiro, fecho
os olhos e sigo, atrás daquele momento
como se mãos houvessem a tentar o alcance,
mas, no pensar , em determinado tempo
não há a palavra que faça sentido e o impulso,
ao destino, aconteça. de repente, um silêncio,
todas as imagens se calam e o olhar perde a
intensidade. a sensação é dum vazio, iminente-
mente cruel. o corpo embala a cansadez ,
os sentidos, todos, quebradiços se avolumam
e ao canto dos lábios a úmida e
destoada sonoridade dum beijo, único,
contudo, imaginado
é assim que vivo, determinados momentos:
entre os livros e as músicas
entre a saudade e a distância
entre a possibilidade e o supor
embora, à vezes, eu possa sonhar
há momentos que me levam a perder
sentidos e verter lágrimas
[penso-me nuvem ...]
haveria de ser real se você,
ao menos, me alcançasse,
com palavras de tocar
[a distância é algo que vive fora de mim
em outro instante]
.