O quarto

As paredes estão manchadas. Não há janela, apenas uma pequena fresta por onde vejo um pequeno raio de luz entrar, mas não entendo o que há de errado comigo pois eu teimo em por a mão nesta fresta e cessar várias vezes a unica luz que invade esse quarto.

Não há muito ar para respirar, o pouco que resta entra por essa pequena fresta e toda vez que eu a fecho com minhas mãos me sinto muito sufocada.

Eu não quero fechar a fresta, mas minhas mãos não estão sob meu controle. Elas percorrem as paredes manchadas do quarto dedilhando cada centímetro cheio de sentimentos.

Existe uma vontade em mim de quebra-las e fugir deste quarto, mas eu tenho muito medo do que há atrás dessas paredes.

Eu sonho com o momento que alguém bater do outro lado gritando, eu não me sinta assim tão inquieta como me sinto agora.

Queria poder gritar de volta mas o sufoco que esse quarto me causa me cala completamente e toda vez que eu tento falar, as palavras não saem como eu quero.

Começo então a me sentir com raiva.

Raiva do que está além das paredes do quarto, raiva da janela que não deixa a luz entrar direito e raiva das minhas mãos que teimam em cessar o pouco que entra.

Raiva por todas as pessoas que estão do outro lado contemplando coisas que me sinto privada de contemplar.

Raiva por tudo que eu gostaria de viver fora deste quarto que não consigo sair.

Quero quebrar as paredes, quero esmaga-las com as minhas mãos e rasgar minha garganta de tanto gritar... mas no final eu estou sempre calada, sentada no canto, apenas esperando o tempo passar.

Não sei até quando esse quarto vai me abrigar, as vezes com os olhos fechados me imagino lá fora sentindo uma brisa gostosa percorrer minha pele. Ah, ela é tão doce e fresca que me faz querer viver.

Mas quando olho o quarto que estou, essa vontade por vezes voa longe.

Quero me despedaçar para quem sabe em pequenas migalhas fugir daqui com cautela. Mas será que consigo? Tenho forças para isso?

Os dias vão passando, as vezes o quarto se alarga e a fresta da janela da lugar a uma abertura maior, por onde vem um vento bom.

As vezes o quarto aperta e fica tudo tão fechado que não consigo me mover.

Tento descrever o que sinto e não consigo.

O que sinto é um quarto.

Um quarto de paredes manchadas com uma janela que é uma pequena fresta.

É o que eu sinto e eu juro que tento não sentir.