Quem criou esse monstro?

Quem criou esse monstro, que me chupa e me joga no lixo como um bagaço. Foi você? que me vê como um primata, um selvagem, como seu escravo? O seu meio, o seu calçado, o seu gado, o seu objeto, a sua mercadoria...

Quem criou esse monstro que se apropria do meu sangue e do meu suor para alimentar o seu luxo, mas que vomita só de me ver, enquanto goza daquilo que produzo. Um monstro que ri dos meus calos, que é indiferente a minha dor, que zomba da minha condição e impõe a minha servidão.

Quem criou tamanha aberração para humilhar os heróis da enxada, do martelo, das mãos e pés calejados e exaltar a imagem dos vilões engomados e inúteis. O cinismo deste monstro é tão perverso, ele nos coloca em uma senzala e em um tronco e ainda pede nossa gratidão, como se tivesse nos dado algo, enquanto na verdade é um ladrão do fruto do nosso trabalho.

Quem criou esse monstro, por favor, alguém me diga, o fogo não será o bastante para queimar esse desgraçado, nem a terra para enterrá-lo, nem água para afogá-lo, nem a mais profunda fossa será o bastante para jogar tanta merda.