Perder para dar valor ou dar valor para não perder?

Espero que você tenha noção do quão privilegiada é, que não perca o que tem para dar valor porque a segurança em excesso priva de uma percepção mais aguçada. Você pensa que será para sempre, mas um belo dia a vida te surpreende.

Ora, você passou o dia dos namorados acompanhada, tem alguém que te ama incondicionalmente a ponto de se anular dentro da relação e viver para te agradar, mas mesmo que ele atenda a todos os seus caprichos, nunca será o bastante.

Você o humilha porque possui uma autoestima elevada e se "garante", creio eu por jamais sofrer rejeição ou tido alguma necessidade negligenciada, por nunca ter vivido um amor não correspondido ou cheio de obstáculos, logo, não valoriza o presente que a vida de bom grado lhe deu (ainda que você não mereça), de ter alguém sem filhos, que sempre te idolatrou, te colocou num pedestal, não estava preso ao passado, ligado emocionalmente a alguma ex, algum amor mal resolvido, alguém que se dedica todo dia para fazer as coisas darem certo, para ser o bastante para você.

A recompensa é a ingratidão?

Não espere-o se cansar de encarnar o papel de bobo e ir embora porque talvez no dia em que você se der conta de que tem sorte, seja tarde demais. Não espere-o encontrar uma moça doce, meiga, bem-humorada, divertida, que o lembre que o amor é pensado para ser leve, partilha (e não anulação), nunca humilhação, porque ele abre mão de muitas coisas e se sobrecarrega, mas o que você dá em troca? Porque sabe-se muito bem que lhe é conveniente a união, contudo, amor não há.

Longe de mim fazer o papel de vítima porque não sou, mas é triste amar alguém de todo o coração e não poder declarar esse sentimento, estar longe da pessoa, longe demais de um abraço, não poder secar as lágrimas desse alguém, tampouco sorrir junto, no dia dos namorados sempre estar só e tentar se convencer de que "é coisa do destino", quando não é, só não entendo por que eu, que tenho um amor sincero, não tenho uma única chance, quer dizer, em partes porque ao contrário de você, minha autoestima não é um narcisismo velado e a timidez me resguarda de passar vergonha, enquanto que também me paralisa e me deixa sem saber por onde começar a lutar.

O amor literalmente estava do seu lado, você nem precisou lutar, ele lutou por vocês dois, ele ama por vocês dois. No meu caso, eu vou ter que sair do casco e não tenho garantias, mas não é isso que eu lamento, eu me sentiria mais envergonhada de estar na sua posição, de estar tão envolta pela própria arrogância e incapaz de atinar o mal que causa a outrem, pois ele ainda não despertou desse jogo de manipulação e abusos à dignidade, um dia irá.

Enquanto você pensa que "lacra", presta um desserviço à sociedade porque deturpa o feminismo, beirando ao extremismo, ao doentio radicalismo porque, sim, o homem é machista por natureza, mas desconstruir sem ter respeito pelo indivíduo é de uma prepotência sem limites. Mulheres também podem ser abusivas e opressoras.

Reconhecer-se no papel de quem oprime poderia despertar alguma empatia no seu coração porque não é tão difícil inverter os papeis e fazer uma análise de consciência. Pense, pense bem: você não gostaria de ser diminuída, anulada, humilhada, maltratada, repreendida como se fosse uma criancinha de 5 anos. Talvez você não acredite, mas toda semeadura tem colheita, cuidado com o que você tem regado porque mais cedo ou mais tarde, a conta virá. E você não poderá escapar.

Se eu tivesse uma autoestima elevada como a sua, poderia esnobar, dar vácuo nos contatinhos, ver de quem iria tirar proveito para conseguir o que quero, só que nada disso me preenche porque posso chegar longe sem usar pessoas como escada e nunca usaria meu amor para ascender na carreira porque tenho todos os recursos em mim mesma para conquistar meu espaço, queria o amor e a atenção dela, luto para ser uma pessoa melhor porque quero ser digna dela, contribuir com algo caso um dia minha sorte mude e eu experimente o gostinho de um sentimento correspondido.

Hoje ainda sinto tristeza e indignação por ver gente pensando que pode fazer os outros de capacho, cuspir nos sentimentos alheios, se prevalecer, como se o mundo nunca fosse girar, como se este girasse em torno do próprio umbigo.

Para ser um amor saudável, as duas partes devem amar, dialogar, se doar, aprender, um amor entre duas pessoas só sobrevive se houver duplo empenho. Do contrário, a semente não cresce, não importa quão fértil seja o solo.

N/A: Apenas um pensamento de alguém que se revolta com quem tem sorte no amor, de ser amada, ter a pessoa amada tão pertinho e ficar tripudiando, maltratando, se achando a última Coca Cola do deserto, sem semancol, só porque se "garante" a ponto de poder escolher com quem ficar, sabendo do que a pessoa sente, ter segurança. Enfim, são só palavras ao vento, para o coração pesar menos.

Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 15/06/2021
Reeditado em 15/06/2021
Código do texto: T7279696
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