POR UMA SOCIEDADE SEM CLASSE

POR UMA SOCIEDADE SEM CLASSE

Em que pese a genialidade de Karl Marx e a enorme influência de suas idéias sócio-políticas na Humanidade, tenho a ousadia de fazer colocações sobre as bases de sua obra por considerar que, assim como a religião mulçumana, o embasamento é feito na incitação ao combate entre seres humanos de diferentes pensamentos políticos, ou religiosos, ou econômicos. Não se pode esquecer a total ineficácia da violência, do radicalismo, das limitações psicológicas que acompanham a prática de sistemas políticos dogmáticos que acabam por condenar indivíduos não seguidores a serem considerados uma subespécie desprezível. Vamos então colocar algumas ponderações sobre o funcionamento de sociedades que vivem suas vidas em função de regras impostas por um conjunto de idéias pré concebidas por uma pessoa.

A crueldade dos rótulos é básica, a meu ver, para preservar a permanência de um sistema adotado, seja de qualquer natureza. O camarada discorda, já é tachado como antipático, reacionário, comunista, capitalista, impuro ou qualquer outro título do sistema vigente. A rotulação é sutil, e instantaneamente define como inimigo um observador casual. Por exemplo, se você comentar que Marx não penteava o cabelo, imediatamente será rotulado de capitalista, fascista, ignorante. Se falar mal de um político de direita, passará a ser comunista, socialista, etc. Se você for rico, será considerado explorador dos pobres. Assim por diante. No dia que, nas eleições para governador de São Paulo 1986, um repórter perguntou ao ladino e de péssima lembrança Orestes Quércia, qual sua opinião sobre a candidatura de Antonio Ermírio de Moraes, imediatamente veio a resposta: “-Quem? O cara do cimento?”. Imediatamente Ermírio foi nomeado como um milionário não político querendo governar São Paulo. E assim foi a campanha toda, que terminou com a previsível derrota do “homem do cimento”.

Pior é que parece ser uma necessidade fundamental para a maioria dos seres humanos vincular o próximo com alguma organização ou idéia que dê um rótulo e identidade como seguidor da mesma. Orgulhamo-nos de sermos socialistas, ou capitalistas, ou democratas, ou monarquistas. Enfim, nos sentimos desprotegidos se não pertencermos a uma corrente que parece nos dar respaldo em nossas escolhas.Na maioria das vezes, a pessoa nem sabe o que significa seguir esta ou aquela ideologia, mas o fato de poder afirmar que é isso ou aquilo lhe conforta. E passamos a desprezar, e até mesmo odiar, quem adota outras ideologias. Daí a considerar nossa escolha como a única capaz de trazer felicidade social é um pulo. Essa a gênese do radicalismo. Então me questiono: socialista quer mesmo a igualdade entre pessoas? A direita quer escravizar a todos? O capitalismo é uma máquina de moer seres humanos? O Islã não tem nada de bom? Sem falar em espiritismo, umbanda, monarquias, etc.. Enfim, nas inúmeras correntes de pensamentos criadas pelo homem há uma necessidade de rotular e eleger inimigos gratuitamente, como se os “contra” não possuíssem nada de positivo. Evidentemente, em nenhum sistema há “comedores de criancinhas”.

Mas vamos ao por que do título desse texto. Todos os que propõem uma nova idéia, começam a cooptar elementos das classes mais humildes da sociedade que pretendem transformar, sempre foi assim. O passo seguinte é criar uma forte animosidade contra o “stablishment” e a seguir uma batalha franca de palavras, ofensas destrutivas das pessoas colocadas na parte de cima da pirâmide social, como se estas fossem um lixo humano. Se um número considerável da população aceitar esses princípios, acontecem arruaças, movimentos e manifestações agressivas que acabam por iniciativas de tomar o poder e implantar um governo totalmente obediente às idéias “revolucionárias”. Ai, começa uma inversão: quem era do sistemas banido inicia um movimento que, provavelmente, voltará a governar anos depois, quando os “progressistas” mostrarem suas mazelas e descontentarem o povo. A História mostra que é mais ou menos cíclica essa alternância, com raras exceções.

O que eu estranho é por que as mudanças não são feitas começando por mostrar aos mais favorecidos o quanto existe de diferenças de qualidade de vida entre eles e o povo. Sempre que se nivela uma idéia por baixo, o sucesso é quase impossível, pois gera radicalismo, e aí cada um se defende como pode. Umas frases de Lincoln que independem de ideologia em minha opinião: “Você não pode criar prosperidade desalentando a Iniciativa Própria;” “Você não pode fortalecer o fraco, enfraquecendo o forte.” “ Você não pode ajudar os pequenos, esmagando os grandes.” “ Você não pode ajudar o pobre, destruindo o rico.

”Quem sabe, um socialismo mais realista, que traga o rico para o pobre e não o pobre contra o rico seja bem sucedido? È natural que há sempre uma inveja ou revolta quando vemos ricos levando uma vida luxuosa. Mas se os conscientizarmos que só conseguem ser assim devido aos humildes, talvez as coisas melhorem?

Muitos acharão ridícula essa idéia, mas com um governo eficiente, considero possível.

Paulo Miorim