Dias de chuva

Dias de chuva são mais silenciosos.

Me calo com as lágrimas das nuvens que acinzentam meu dia.

Fico hipnotizada com o movimento da chuva mexida pelo vento.

O respingo no chão, o som do telhado aparando as gotas insistentes.

Posso ficar horas observando as partículas de água descerem pelo vidro que me protege de minha vontade de entrar no chuveiro do céu e ali me deixar.

Encher meus bolsos do líquido incolor e ao mesmo tempo perdê-lo.

Fazer minhas lágrimas misturarem-se com a chuva que lava meu rosto e meu cabelo enfraquecido.

Os trovões não me assustam e os raios não me afugentam, porque eu também grito e irradio a energia inutilizada que me sobrecarrega.

O vento bagunça meu cabelo já desarrumado e faz o frio entrar pela minha boca, molhada de solidão.

Meus pés sujos de terra parecem a raiz de uma árvore teimosa, que está torta e curvada, mas não se deixa cair pela tempestade.

Ela sabe.

Abriga a vida.

Mesmo sentindo e tendo certeza de que naquele momento abriga a morte.

Emanuelle Querino

21/09/2007