Lucidez.
Lucidez.
No meu momento de lucidez, entro num estado de completa insanidade. Sento-me à beira da poltrona, na esperança de sentir-me confortável, com o nítido desconforto de não à ver mais. Ruas molhadas, veículos num frenético vai e vem, como estas pessoas, que, com o dia planejado, acaba sem direção.
O atendente me diz alguma coisa que confesso não dar atenção, voltado ao meu eu, despeço-me do ser que em mim reside. Ele continua a falar coisas sem sentidos, mas, com a propriedade de quem diz coisas com sentidos real. Neste ponto pergunto-me internamente:
- O que de fato real?..
Essa vida tão palpável, nem se quer, torna-se matéria, na matéria de viver-la. E vivemos mesmo assim, e, morremos assim mesmo. Neste espaço de tempo, tentamos preencher espaços com coisas banais, banalizanos importantes coisas, nos dizendo o quão sabios nós somos, até que, percebemos nesta cultura sabia, quanta idiotice sabiamente fazemos.
Olho para o céu na divina busca de respostas que já sei, invoco forças demoníacas por não ter naquele momento o óbvio, e, culpo a todos, quando o único culpado profere tais procura profana. A chuva cai, levanto da poltrona supostamente confortável para banhar-me nela, meus olhos verdes contempla o cinza daquele dia, o cinda deste dia reflete a confusão deste verde olhar. De uma bica, uma água desce abundantemente, mergulho na tentativa de lavar se não a alma, ao menos o corpo sujo de pensamentos ora triste, ora alegre, e, ora sem sentir.
È, neste momento de lucidez, entro neste estado de insanidade, do simples momento de ser humano...
Texto: Lucidez.
Autor: Osvaldo Rocha Jr.
Data: 13/05/2025 às 09:04