Eu

Dou-me a um canto perdido,

Onde já nada cabe ou existe,

Onde tanto é o pó

Que me corta o ar

Ou não saberei eu respirar

Sem ti…

No recanto escondido

Na sombra do pequeno imenso,

Num pedido apenas, recordo-me a mim…

Sem ti não sou ninguém.

E o “eu” é já tão pouco,

Que não ouço o gritar do vento,

Lá fora, cá dentro…

E dentro de mim só tu danças

Ao som daquilo que ainda sobra

Dos meus seis sentidos,

No vazio da grandeza que me preenche.

E, por vezes, ainda consigo ouvir,

Lá no fundo do que me dá vida,

A voz trémula do meu fantasma,

Que entusiasma qualquer lágrima caída.

Penso, na imensidão do meu cantinho,

Que é o refúgio onde me mostro ao mundo,

Sem que do mundo saiba a cor,

E sem que eles saibam a minha.

E refiro, sem cessar, que sou.

Que sou!...

E o que sou agora?

O que seria sem ti?

Deveria ser o que sempre sonhei…

Deveria assim ser quando sonhas comigo.

Gostaria que me visses para além do teu ser…

Queria que me desses aquilo por que anseias.

Porque eu, na verdade, sou um livro.