DESEJOS
Se eu pudesse expor todos os meus desejos, com certeza sentiria medo, de me ver desnudo, perante todos que sempre me viram e ouviram.
Se eu pudesse expor diante de todos os meus pensamentos iria me chocar com o resto da humanidade que circula em torno de mim.
Se eu pudesse falar tudo que penso, com certeza teria que me calar diante de uma sociedade totalmente comprometida com a mentira.
E diante destas improváveis atitudes que eu poderia tomar, resta-me calar e observar o andamento de tudo, de forma sensata, sem nada falar ou dizer.
Neste momento quando me perco entre o desejo e o medo, entre a razão e a ignorância, fico preso a diversas atitudes que se chocam perante um amontoado de pensamentos e desejos que ficam contidos e circundados por muros e paredes criados pelo medo ou pelo bom-senso.
A razão se torna prisioneira, diante das constantes vertentes de uma realidade que passa a ser irreal e mesmo poder-se-ia dizer irracional.
Nestes momentos de devaneios da alma, quando se procura encontrar o sentido de tudo que nos circunda, ficamos presos e reféns de nós mesmos.
No mundo de fora, as feras nos amedrontam e somos obrigados a nos esconder debaixo de nossas defesas e da couraça criada para nos proteger.
Vivemos num mundo real e ao mesmo tempo ilusório, imaginando que um Deus irá nos salvar pelo fato de sermos bons. Bons?
A sociedade como um todo vai a cada dia caindo dentro das mazelas que foram criadas para alimentar as ilusões e manter cativos todos aqueles que assim preferem, à procurar ou pesquisar sobre uma possível realidade além daquela que é tão comum.
E vou contendo meus desejos e refreio os meus medos para não ficar vulnerável perante o resto que se porta de forma insensata, sem compromissos com a verdade ou com ninguém.
Se, depois de tudo que conseguimos alcançar, nada valer para a melhoria da nossa vida e nosso próprio relacionamento dentro do mundo nada mais adianta. E assim seremos compelidos a aderir a toda e qualquer forma distorcida de realidade.
03/09/03-VEM