A ROSINHA APAXONADA


Eu num seio prumode que
Rosinha se apaxonô
pel'um caba sem futuro
cuma o fio de fulô!

A mãe só farta corrê
doida - doidinha barrida!
Já maginando o que
a fia vai sofrê na vida.

É que o caba é baguncêro!
É vagabundo! Um canaia!
Além de sê cachacêro.
Um sem-veigonha! Um catraia!

E o pai, coitado, nem fala.
Véve num sofrê medonho.
Achando que é pesadelo
o que pudia sê sonho.

E a Rosinha, nem liga!
Facêra! Filii da vida!
Di pra mãe: -Isso é besteira
minha mãezinha quirida!

-Vou casá cum Edinei
e ninguém vai m'impatá
poi ele é mermo, eu sei,
quem vai mi levá pro artá.

Num adianta brigá
nem butá areia não
pruquê o Edinei já tá
dento do meu coração!

-
E a Rosinha se casa
cum seu Edinei quirido.
Nem bem uns dois mês se passa
leva tapa ao pé d'uvido.

Vorta pra casa do pai
chorando, pidindo arrêgo:
-Me perdoi paizinho quirido!
Eu já num tenho sussego.


E o paizinho perdoa
pruque tem um coração
mole, qui num pode vê
sua fia sofreno não.

A mãe agradece a Deus
pelo milagre obtido.
C'um bode paga a promessa
a São João pru seu pidido.

Tem sua fia de vorta!
E ela, parece, aprendeu
que um home de vida torta
ninguém muda ou desentorta.
Só quando se di: Morreu!!




Rosa Regis
Natal/RN
(26/02/2002)

Alterado em 06.10.2015