Crise

Há uma tempestade dentro de mim

apesar da falta de água

desta crise hídrica

do ar úmido

Minhas pernas estão lentas

deve ser a idade

a precariedade

este salário ruim

este sentimento de culpa não sei de que

Em minha coluna tem um prego

um arame farpado está entre meus discos

ando de lado

encurvado para frente

tento pegar velocidade

prefiro a lentidão

Não sinto cheiro

nem fome

Estou fora do posto

do prumo

salto palavras

não converso mais

deito-me entre livros

é tanto barulho que somente escuto

Não ando ouvindo ninguém

Tudo dói

a crise econômica,

a política e a vida em si

tudo é crise

e não tenho a certeza

ou tenho e não sei

estou dentro dela há anos.