PINTANDO DE VERMELHO O ASFALTO.

Fui jogado não por que quis

Alguém ocupou meu lugar

Fiquei desempregado

Sem teto para morar

Meu futuro por um triz

Quase ficou estancado

No sinal da esquina parado

Fui apresentando ao culpado

A sociedade golpista

Que como vermes oportunistas

Ficaram com meu bocado

E em mendigos trasformados

Os que brincam com a sorte

Pulando entre os veículos

Separados por blindados vidros

Meninos limpadores atrevidos

Esperando por algum vacilo

Da fila de carros passantes

Para o roubo anunciar

E a qualquer momento

Outro corpo vai tombar

Só assim o sofrimento

Faz a sociedade do bandido lembrar

Blindados e resistentes

Sentados em bancos de couros

Ricos de um lado, do outro carentes

Em buscas de tesouros

Não se olham, nem se sentem

Compartilham a mesma hora

Tudo isso embora

o mundo continua compondo

Essa poesia da fatalidade

Que transforma crianças em calamidades

Vindo do útero da comunidade

Por falta de oportunidade

Para a vida reproduzir

Silêncios na boca do cano

Estampido à sair

Anunciando um corpo caído

Na calçada a esculpir

O fim dessa jornada

Dos gritos não mais ouvir

Uns com medo, outros com vergonha

Uns atentos prós vacilos

Outros perplexos gemidos

Se escondem da própria morte

Com essa faça afiada

Preparada para o corte

Do fio da navalha

Que o corpo extraçalha

Peças de carnes no chão

Pintando de vermelho o asfalto

Do sangue jorando do assoalho

Do Auto de infração

Correndo sem direção

Para o lugar indeterminado

Que não sabe ele onde é

Até o dia que encontra

O cheiro do queijo armado

Virando carcaça de picolé

Indigente na geladeira mofado.

Fred Coelho
Enviado por Fred Coelho em 22/01/2018
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