Ira deserta

Conheço certo garoto

que foi levado ao deserto. Ainda prospera.

Imagine-se no deserto.

Imagine sua ira no deserto:

ele queria água, mas não havia!;

queria comida, também não havia!

Ele queria, mas não podia!

Havia um garoto. O conheço quase que parcialmente;

este foi levado ao deserto:

apanhou de viajantes,

foi perseguido por animais,

não conseguia dormir à noite,

durante o dia sentia-se moribundo,

foi mordido vivo por animais,

acometido por doenças,

passou sede, fome e nudez,

chorou de solidão e medo,

sofreu alucinações,

beirou a loucura,

desistiu de tudo,

desejou a morte.

Gritou, chorou, esperneou.

Então murmurou.

Nada adiantou.

Ele, em raiva e chorando,

comeu areia, muita areia

-- começou a colocá-la na boca incessantemente --,

e gemeu, espremeu-se,

pareceu feto.

Sentia-se coitado,

queria carícia.

Nada adiantou.

O Criador e Senhor de todos os desertos

não se sensibiliza com infantilidades.

Ele açoita os que ama.

Cesare Turazzi, em tudo capacitado pelo Senhor

Cesare Turazzi
Enviado por Cesare Turazzi em 07/11/2014
Reeditado em 08/11/2014
Código do texto: T5027237
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.