Da lascívia

O corpo explode, o interior queima:

basta o ameaçar de uma faísca

para haver o incêndio:

tem-se a fumaça

antes mesmo do fogo.

Sobem da terra fumaças,

muitas fumaças.

Elas penetram todo e qualquer corpo,

elas incendeiam a água.

É aterrorizante, aterrador.

É como se arrancassem os olhos

e colocassem-nos em um ânus;

é como se arrancassem, lentamente,

dente por dente, unha por unha,

com pedras afiadas.

É como o grito

de uma criança torturada,

de um animal sodomizado,

de uma alma cravada.

É abominável, insuportável.

É como deliciar-se

nas próprias fezes,

é como arrancar a pele de genitais.

É como refrescar-se

bebendo a própria vomição com adoçante.

É doentio, insano.

É como uma tempestade de tormenta.

É como comer um sanduíche

de tijolos e areia,

é como olhar a traição,

é como maquinar o derramar de sangue.

O homem come, come e nunca está satisfeito,

a boca pede mais,

o corpo range, o ventre chora, o olho implora,

a volúpia clama, a luxúria chama e a lascívia conclama.

Não se aguenta mais: deseja-se a morte.

Como um animal. Um boi.

Uma besta, uma fera,

indomável, perversa, que ninguém suspeita,

mas que todos veem.

Explode o peito,

ele olha tremulamente,

se agita no berro interno,

o sangue ferve:

há um urro terrível nas entranhas.

O homem balança a cabeça,

como que para esquecer;

fecha os olhos,

para não enlouquecer;

sua frio pelos poros abertos,

e o instinto voluptuoso, doentio, grita,

e, para drenar a loucura,

chora como criança que não é,

fingindo não ser a besta asquerosa que é.

Arrepende-se levianamente da bestialidade,

logo após o ato (esperando pelo próximo bote).

E elas não avisam,

sozinhas elas se achegam e,

como pensamento repentino,

ganham sabores sombrios.

Elas são amedrontadoras:

os olhos se fecham,

a cabeça é virada,

os cabelos são puxados

e as mãos, em agonia,

se apertam, quase que sangram;

torna-se louco,

pois elas são aterrorizantes!

São lembranças involuntárias,

coisas que não se quer lembrar.

Lembranças aterradoras,

memórias angustiantes:

é como se arrancassem

a carne dos ossos;

é como se tudo

desaguasse em terror

e imagens abomináveis.

É como tudo e

nada disso.

É pior.

Elas nascem

em idolatria;

é como altar idólatra

em culto às malditas.

É como alicerce insatisfeito

em sacrifício aos devaneios.

É como terror desolador,

são terríveis de mais para qualquer um.

Mata esta besta!

Arranca estes malditos!

Despedaça estes horrores,

oh Criador e Senhor de todas as bestas!

Cesare Turazzi, em tudo capacitado pelo Senhor

Cesare Turazzi
Enviado por Cesare Turazzi em 27/11/2014
Reeditado em 27/11/2014
Código do texto: T5050286
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