Pó
Sinto na minha garganta
A fissura do erro
Corroer-me goela a baixo.
Um refluxo do vômito,
Que meus erros produzem.
É o pecado que me assola,
Meu lado caído é o apodrecido,
Meu erro é o engolir cru.
D'uma só vez e diversas vezes após.
Embora seja mal, pérfido.
Embora, mate-me!
Ainda anseio pela lástima amarga
E, tento lavar-me no fim de tudo.
Tento.
Quando o gosto passado
Faz parte do infantil medo da punição.
Quando recai-me a culpa do ato.
Tento só, mas tento,
Tirar o cheiro, o gosto, a lembrança.
Apagar a queda da Minh’ alma
Com a força da mão sobre a bucha da culpa.
Em vão!
O vômito volta com a minha escassez.
Meu lado caído palpita uma vez mais
Gritando os EUs ocultos.
Perdida, mais uma vez, fico.
Não tento.
Não tento uma vez mais sair.
O orgulho me fez casa
E eu aceitei.
A desgraça me deu nome
E eu usei.
O fedor que assola o corpo,
Que foi tentado lavar-se mil vezes.
Mas, as águas que possuo não passam de lama.
Vivo em debalde com porcos.
Ora de cabeça ao vômito,
Ora banhada no escárnio.
Tento, uma vez mais, limpar-me.
A insatisfação e culpa retornam.
Abrindo a porta do meu coração,
Descobrindo meu refúgio
Expondo-me a luz que tanto corri.
Porém, não há mais como correr.
Vísceras e pó ao sol.
Então, desisto.
Cansada de debater-me em vão.
Cansada de limpar-me só.
Assim, com o fiapo que sobra
No pingo de forças que me sufoca
Clamo!
Clamo pelo Filho do Homem.
Logo, clamo por vida.
E, eis que estou limpa,
Resgatada de mim.
A salvo da podridão da alma.
Eis que o vômito já seca no estômago
E o cheiro desfiado corre do corpo,
Sarando-me e Moldando-me.
Tão cedo a sujeira vira ontem,
Marcas esquecidas.
Permito uma olhada para fora do casulo
Deslumbrada com a vida que hoje pulsa,
Que ontem era mórbida.
Meu restauro foi o Filho,
Jamais tingir-me-ia sozinha
De outra cor a não ser a da sujeira.
Só Ele poderia ter qualquer mérito
Limpando-me e curando-me.
Para minha plena e total
Rendição.