No apogeu do inusitado

Olhei e vi meu sangue coagulado, desafinado e sem cor, como serpentina em folias passageiras, assim me vi por dentro de um redemoinho sendo sacudido inúmeras vezes, sem poder reagir...dias e meses passam como relâmpago quando se espera o nada, quando a lua perde seu brilho, tudo fica as cegas e perdidos como moscas procurando seus entulhos...vagas lembranças de criança não ressuscitam novas esperanças, como vaga-lume brilhando em noites escuras repartindo seu brilho com as trevas...sou tolo por confiar, sou destro nos meus pesares, passei meus dias como servo iluminado por meus ideais...nas fileiras do próximo dia sempre aparece um dia melhor do que o outro, o canto de um pássaro não precisa de afinação, seria tolice esperar uma bela canção do avarento.

Acordar e saber que ainda respiro é uma dádiva de Deus, se a morte for precipitada os atoleiros do inferno aplaudem de pé, se o velho não aprendeu ainda, seria muito esperar do novo algo que purifique nossa esperança...favores e favores, uma troca justa apenas entre os nobres, os pobres que se danem...erva daninha na alma embebecida de orgulho, vinho novo para celebrar a hipocrisia...todos os dias ouço cânticos nas praças e esquinas, acordo com olhos repletos de vontade de ser apenas eu no meio desta parafernália de aglomerados sociais, tenho visto uma onda de vaidade inflamada por desejos insanos...quero gritar bem alto para que todos ouçam minha voz embargada, quero enxergar um dia lindo em meio as densas trevas afligindo nossa alma já fragilizada.

AUGUSTO SABAOTE
Enviado por AUGUSTO SABAOTE em 16/05/2018
Reeditado em 16/05/2018
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