Contigo

Tentei te manter afastada,

contei-te as lendas sobre mim,

os casos escabrosos,

as estórias de vielas,

essa minha personalidade indomável,

um lobo solitário,

um coração frio na noite,

vagando pela escuridão,

sem alma e com pecados muitos,

um algoz de si mesmo,

um carcereiro de sensibilidades alheias,

triste criatura da melancolia,

aprisionado em concreto invisível,

mas nada a manteve assustada o suficiente,

para não baixar suas defesas e se apaixonar,

e agora cativo estou de um sorriso de amor,

sabendo que em breve serei sua dor,

a farei derramar lágrimas nas madrugadas,

assimilando mais uma culpa à minha lista,

como explicar-lhe que não sou um cavalheiro?

como convencê-la de que não sou um herói?

em minha jornada só cabe a solidão dos malditos,

em meu caminho só há o fogo dos incandescentes,

seria tão mais fácil virar teus olhos para outro recanto,

liberar seu coração de minhas vilanias,

permitir-se ser feliz sem minha presença,

mas teimosa me segue insistindo na tormenta,

eternizando esse sofrimento de ambas as partes,

cindindo minhas impiedosas atitudes,

conturbando minhas razões tão fortes,

deixando-me no atordoamento dos sentidos,

como um pássaro engaiolado...