Não Venha, Ainda

Não Venha, Ainda

Não venha, ainda! Não há esperanças para recomeçar,

as portas estão enferrujadas e janelas cerradas para amar.

Não ative seus desejos, o sorriso do retrato é montagem,

um adesivo à venda na banca da vida para ludibriar.

Minh’ alma ingênua merecia seus afagos verdadeiros,

não aquele alçapão de amarguras e puro engodo.

Não venha, ainda! Da eminente tragédia devo alertá-lo,

mude o trajeto dos sonhos, os meus debandaram.

Não venha, ainda! A seiva que era doce em fel mudou,

nem sei nem se há reversão nas veias dilatadas de dor.

Melhor não ficar à espreita com esperanças de habitar,

coração abarrotado de decepções, amarguras e bolor.

Procure alguém que acredite no seu pobre glossário

porque em mim só encontrará o niilismo embrutecido.

Eis minha última palavra: não quero nada, além disso,

restou-me apenas o embuste da matéria sem atrativo!

Não venha, ainda! É ilusória a imagem de outrora,

há Sodoma no meu corpo com o fascínio de Gomorra.

Venha à meia noite no portal da colheita do orvalho,

pronto para pegar com a alma todas as Cartas in Flor,

e dá-las aos pedintes de Amor que as saibam decifrar.

Fragmento do livro FLORBELA, NÃO EU

Tributo a Florbela Espanca

Railda
Enviado por Railda em 23/07/2019
Código do texto: T6702709
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