Tudo leva a crer que te amo
Tudo leva a crer que te amo
E todas as horas
— e que serve as horas?
Mortas feito poeira
Sobre os móveis e os móveis
Gastos pela falta de zelo
Dos meus olhos que não veem
Mais tua boca colada a teu rosto
E não ver este rosto me faz
Pensar de que vale a pena doar
Minhas vistas ou meus sentidos
Aos cães nas ruas ou às nuvens
Nos céus ou os pássaros
Pousados em qualquer canto?
— e os cantos? E os cantos?
Onde se escondem coisas perdidas
Coisas escondidas e coisas tão
Largadas quanto meu corpo
Nesta cama aqui e agora que flutua
Inerte pela passagem de tuas mãos
Sobre as minhas e se aquece
No calor que vem de ti e bem dentro
De ti foi onde achei o amor que nunca
Tive e também não o tenho agora
Senão por fora dos meus pensamentos
Mais doces e puros e tristes talvez
Porque agora não tenho nada
Nada além de um corpo desfalecendo
Em si e levando-me a crer que de fato
Eu ainda te amo e que de fato
— sim, eu digo que de fato
Tudo leva a crer que eu lhe perdi.