Eu não sou forte
Curitiba, 14 de dezembro de 2020.

eu não sou forte
meus versos embaçam a visão
ainda existe uma garota magoada
à espera de um pedido de perdão
que da sua parte jamais virá
porque você tocou o barco
vive como se eu não existisse
adentrou um território
onde suas pegadas deixaram marcas
e depois riscou o pontinho do mapa
eu não sou forte
só porque sobrevivi ao vale escuro
eu ainda estou o cruzando
a diferença é que não mais me calo
forte é aquela amiga minha
que depois de um relacionamento abusivo
ressurgiu das cinzas e empodera
eu ainda estou destruída
a diferença é que eu disfarço bem
para que ninguém tente te imitar
eu não sou forte
porque escrevo alguns poemas tolos
já excluí milhares de cartas
tantas palavras jogadas no limbo
para alguém que do precipício mais alto
me empurrou sem piedade
talvez eu precise te superar
não porque te ame loucamente
mas porque o seu fantasma me persegue
e me impede de abrir as portas
para todas as boas surpresas
que a vida deve ter para mim
você deixou o assento vazio
não chore se alguém ocupar o seu lugar
eu tive que ser forte
quando você matou minhas esperanças
em segundos que mudaram minha vida
quando veio com o lero-lero 
de "me amar como uma irmã"
"não ficaríamos juntos por causa do destino"
eu tive que ser forte
quando entendi que você a escolheu
e os sentimentos dela não podiam ser feridos
mas nos meus você pisoteava
porque era o dono de toda a situação
eu tive que ser forte
para saber me retirar
enquanto restasse um tiquinho de dignidade
para refazer minha carreira esfarelada
e me abrir para novas amizades
porque te esperar atrasou minha vida
nunca gerou nenhum fruto doce
eu tive que ser forte
para voltar a sonhar
nos tempos mais cinzentos da vida
quando um dia sem chorar
merecia uma grata recompensa
quando sua imposição para o contato
era a de que a "amizade" seria secreta
você não fazia questão de mim
mas não me queria longe
eu tive que ser forte
e todo dia eu tenho que ser
porque não posso te apagar de mim
você fez parte da minha história
ainda que seja da coletânea sombria
se pelas entrelinhas você me chamou de erro
eu também afirmo que foi um erro
ter aberto as portas do meu coração
para alguém que estava só de passagem
eu fui tola e imatura
um lamento que quem venha a me amar
nunca tenha o deleite de conhecer
quem eu costumava ser antes de você
quando eu era risonha, alegre, destemida,
quando não doía falar de amor
eu quero ser forte
para me convencer 
de que a sua partida foi um presente
a oportunidade que o destino me deu
para me aproximar de quem
realmente terá intenções honradas
de me amar, cuidar, respeitar,
porque eu quero mais do que ser um encaixe
na sua rotina tão cheia de compromissos
porque você fez eu me sentir um peso
um fardo, como se estar comigo
fosse pior do que um castigo
eu quero ser forte
para me olhar no espelho de batom vermelho
e saber que eu sou muita areia pro seu caminhão
que não vou aceitar três linhas
quando escrevo um texto com 1000 palavras
não vou aceitar migalhas do chão
quando tem um banquete em cima da mesa
não vou aceitar te ver online me ignorando
quando tem alguém que mesmo ocupada
se esforça para se fazer presente
eu quero ser forte
para um dia não me sentir constrangida
quando contar a nossa história
para alguma amiga e ainda chorar
eu quero ser forte
para que quando o outono chegue
essa lembrança não me assombre
seja apenas um capítulo ruim
eu não sou forte
mas a resistência se constrói
depois de diplomada eu não te quero
eu te queria quando achava que precisava
das suas meia dúzia de palavras frias
para aquecer uma realidade de merda
agora eu sei que posso sobreviver
que meu valor não se mede pela sua aprovação
nada paga o preço dessa libertação
um dia eu chegarei ao patamar da Ju
um dia eu vou ter orgulho
de cada pedacinho de mim
e vou compartilhar com muitas pessoas
a minha passagem pelo vale escuro
mas por ora eu repito:
eu não sou forte.
Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 14/12/2020
Reeditado em 14/12/2020
Código do texto: T7135748
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