EPITÁFIO DO AMOR

Eu te amei qual colibri ama a flor

Uma folha seca e solta baila

Ao embalo do vento sibila

Sou um refém deste teu pseudo amor

Onde está meu pensamento

Em qualquer parte se reparte

Com você atolada em mim qual unguento

O tempo some, consome, qual fome a la carte...

Quero te esquecer te desamar

Corro pra bem longe da praia

Sento num boteco pra me embriagar

Na lágrima vem você que em conta-gotas desmaia

O vento da lamúria sussurra sua voz

Há uma canção fúnebre nos meus ouvidos

Pousando suavemente qual um faminto albatroz

Nada é mais arrepiante do que teu gélido gemido

Parece que crio asas na pele, arrepiado

Olho pro céu cada nuvem uma carícia, um arrepio

Ninguém me faz sentir mais enlutadamente amado

Mesmo aquilatado de suadas roupas, me sinto vazio...

Queria fugir, sumir de tua vista

Mais quanto mais do sarcófago fujo

Mais deixo sinuosa e eriçada pista

Como o visco de um cacofago caramujo

Quer saber, onde eu for

Vou deixar um enigmático poema

Me deixa viver numa flor

Para que eu possa virar Sapopema...

Assim eu te seco caule por dentro

E nunca mais, nem em águas salinas me verás

Mesmo que vivas em mim lamacento

Nem no túmulo da raiz me encontrarás...

Você me traiu e tudo tem seu preço

Vivi um amor qual navio preso que se atraca no cais

Nada me ressentiu mais que o preço do teu desprezo

Agora morro diluído e nem em aguarrás alguma me acharás...

Minhas lágrimas rapidamente secaram

Isso não quer dizer que estão em aortas que abortais

Como se não existíssemos, venosamente as ceifaram

O que ficou foram seus olhos lacrimosamente imortais

Por detrás da fria memoria umbilical dos portais...

E afundo porque estas cortantes lágrimas

Ao invés de saírem me esgrimam

Coo um rabo de arraia

Me asfixiam por dentro deste corpo cela

E a saudade é uma barco à vela

Sem paredes e sem janela

Sem rumo e quanto mais venta

Mais meu mundo se esfarela

Como um castelo de areia na beira da praia...

Quando a luz do amor se apaga

A escuridão do etéreo é bem maior

Que a própria luz que a propaga...

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 23/11/2024
Código do texto: T8203271
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