Tristíssimo Escritor
Na penumbra da noite, a pena sangra,
traçando palavras que o peito não quer.
Vendem-se sonhos por ouro e lavanda,
mas sua alma, em silêncio, desfaz-se em fé.
Tristíssimo Escritor, na prisão do desejo,
do público, que exige o que não lhe é real.
Teus versos já foram teus gritos e beijos,
mas agora são mercadoria trivial.
As musas, cansadas, partiram chorando,
deixando-te só com contratos e fins.
E ao moldar seu amor ao mundo, apagando,
perdeste o alento dos teus próprios jardins.
Tristíssimo Escritor, ecoando vazio,
em salas repletas de aplausos tão vãos.
Seus dedos compõem o que soa macio,
mas nunca tocam teu coração em grãos.
No papel, as mentiras dançam febris,
enquanto a verdade repousa ferida.
E tu, nas entrelinhas, sorris tão gentil,
mas dentro, suplicas que acabem a vida.
Ah, se um dia te libertares, enfim,
e escreveres os céus que teu peito desenha,
talvez o público veja o jardim,
que a dor cultivou sob a sombra que teima.
Tristíssimo Escritor, teu luto é palavra,
mas ainda há lume no poente a brilhar.
Que um dia teu canto, que agora se trava,
renasça em amor, para enfim te salvar.