Enquanto ele dormia
Enquanto eu tremia e chorava sem conseguir respirar,
ele dormia, tão tranquilo, como se o mundo não tivesse caído.
Meus soluços eram trovões abafados na madrugada,
mas na alma dele, o silêncio reinava.
As memórias, tão vivas, me queimavam a pele,
enquanto seus sonhos talvez fossem de outro alguém.
Eu era um eco vazio no abismo do quarto,
uma presença invisível em seu último ato.
Eu amei tanto que esqueci de mim,
e ele dormia.
Sonhava, talvez, com algo que eu nunca fui,
ou com nada — quem sabe? —,
pois meu caos não lhe tocava.
Agora, resta apenas o peso do ar,
a cicatriz que insiste em pulsar.
Ele foi embora ao abrir os olhos,
mas na verdade, já não estava ali há muito tempo.
Enquanto eu tremia e chorava sem conseguir respirar,
ele dormia.
E ali, naquele instante,
foi que decidi acordar.