Despedida em Versos Podres
Amei-te a boca rubra e corrompida,
Os lábios teus – veneno e tentação,
Seios profanos, cálida ferida,
E o piercing que quebrei com minha mão.
Mas ó! No fundo imundo da retina,
Vi a mentira, a máscara cruel,
E cego fui, na febre que alucina,
Um cão faminto atrás do seu bordel.
Não fui um santo! Em gritos me quebrando,
Bati o pé, borrei-me em vil torpor,
Não tenho o sangue brando e resignado,
Fui fera em cio, fui febre e fui rancor!
Bradei teu nome aos ventos corrompidos,
Sem ciúmes, mas sim desconfiado,
Pois vias em outros corpos retorcidos
Um algo mais, um vício mal amado.
Quis amaldiçoar o outrora instante,
As tardes vãs de riso e de ilusão,
Que são, na vida, o pó, o pó constante,
Do efêmero vapor da podridão.
Mentiste... Oh! mente! eterna embusteira!
Jamais serás mulher em tua essência,
Talvez defesa vil, talvez rasteira
Falta de alma, ou mera incompetência.
Esqueci-me... Rasguei o próprio nome,
Roupa, saúde, um sonho, um ideal,
Vivi por ti, qual mísero que some
Num sorvedouro vil e sem igual.
Mas basta! Vai! Leva contigo o peçonhento
Veneno falso, o gozo sem sabor,
Eu fiz o meu melhor, e neste intento,
Hei de fazer por mim meu próprio amor.