Despedida em Versos Podres

Amei-te a boca rubra e corrompida,

Os lábios teus – veneno e tentação,

Seios profanos, cálida ferida,

E o piercing que quebrei com minha mão.

Mas ó! No fundo imundo da retina,

Vi a mentira, a máscara cruel,

E cego fui, na febre que alucina,

Um cão faminto atrás do seu bordel.

Não fui um santo! Em gritos me quebrando,

Bati o pé, borrei-me em vil torpor,

Não tenho o sangue brando e resignado,

Fui fera em cio, fui febre e fui rancor!

Bradei teu nome aos ventos corrompidos,

Sem ciúmes, mas sim desconfiado,

Pois vias em outros corpos retorcidos

Um algo mais, um vício mal amado.

Quis amaldiçoar o outrora instante,

As tardes vãs de riso e de ilusão,

Que são, na vida, o pó, o pó constante,

Do efêmero vapor da podridão.

Mentiste... Oh! mente! eterna embusteira!

Jamais serás mulher em tua essência,

Talvez defesa vil, talvez rasteira

Falta de alma, ou mera incompetência.

Esqueci-me... Rasguei o próprio nome,

Roupa, saúde, um sonho, um ideal,

Vivi por ti, qual mísero que some

Num sorvedouro vil e sem igual.

Mas basta! Vai! Leva contigo o peçonhento

Veneno falso, o gozo sem sabor,

Eu fiz o meu melhor, e neste intento,

Hei de fazer por mim meu próprio amor.

Cleyton Berkaial
Enviado por Cleyton Berkaial em 21/01/2025
Código do texto: T8245927
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