Sombras

Sombras

Da rua semi-escura,

às horas meias da noite

um homem só,

meio oculto nas sombras,

observa a janela entreaberta,

o dossel furta-cor

e a sombra pálida que se desenha

à meia luz.

Por trás da janela,

no quarto, com seus sonhos

e meias verdades,

a mulher de meia idade

se entrevê no espelho

com saudades do tempo

em que o retrato

não era amarelado,

o sorriso era verdadeiro

e não existiam rugas

nem branco nos cabelos.

A mulher lamentou-se

com o choro entrecortado de soluços.

O homem subiu os degraus,

lentamente, passo a passo.

Degraus e homem

ambos semi destruídos

pelo tempo, pelo peso

da responsabilidade do mundo

e dos pés alheios.