Desencanto de Fadas

Houve uma vez um reino, um cavaleiro e uma dama.

Ambos se envolveram, enredados, na mesma trama.

Formou-se em torno de ambos, o laço formal

Mas errou quem porventura pensou que seria normal.

Naquele reino, o cavaleiro era pela lei.

Enquanto a dama, sinceramente, nem eu sei.

Talvez só por ela, só pelo que achava que era.

Só assim pra explicar a transformação em megera.

Na ciranda de fábula, no faz de conta invertido,

Começou com final feliz, e terminou com gemidos

O que era belo virou retalhos, o cristal virou vidro

Estourou em mil cacos, refletindo um olhar iludido.

Escreveu-se uma história, em folhas de mágoa

Ainda molhadas, de chuva e de lágrima,

Escreveu-se com carvão, e cinzas de uma paixão

Que nada mais foi que engano, veneno, ilusão

Teve por coadjuvantes, o engano, o erro, a loucura

O desequilíbrio, a desventura, e a realidade dura.

Havia uma esperança, um talvez, um quem sabe.

Um ilusório esperar, de um amor que não acabe.

Mas o amor, em sua forma leve e bela, não veio.

Vieram noites ruins, com maus sonhos no meio.

E a partir de certos momentos, ruim despertar

Até a realidade veio o preço da ilusão cobrar.

Perderam-se chances, perderam-se histórias.

Perdeu-se espaço nas bibliotecas da memória

Para guardar provas e documentar enganos

Proteger o reino de comportamentos insanos.

E hoje, olhando pra trás, vê-se que era cegueira.

Olhos estavam abertos, mas incapazes de ver à beira.

Coração-maçã envenenada, vazando sentimento vil.

E movido por tal motor, pronto a qualquer ardil

E ainda hoje, na floresta que ao reino se avizinha,

As mães não permitem que criança passeie sozinha

“Pois lá mora a Bruxa do Sentimento Errado

À procura de um cavaleiro, pra ser amaldiçoado”