Quem é você, afinal?

Que se me surgiu
de nuvens castas
trazendo nas mãos
o manjar dos céus.

Que, após saciar-me
da avidez dos famintos
deitou em meus lábios
o mais fino dos vinhos.

Que com suas asas
suaves qual pétalas
de brancas rosas
acariciou-me a face.

Quem é você, afinal?
que me surgiu no sonhar
dos sonhos de minhas
não raras vigílias.

Que se mostrou em
doce e meiga candura
para meus medos
de mim todos afastar.

Quem é você, afinal?
que me induziu o
mais puro e singelo
de todos os amores.

Que, no veste e tira
vestes talares
despertou-me a libido
com beijos descabidos.

Que com ternura
untou-me as chagas
curando-me dos sulcos
de o meu insano caminhar.

Que me cicatrizou
as feridas do coração
mas rompeu-me
de min ‘alma o espírito

Deixando-o perplexo no
teu alheio comportar
agitando-me, abrupta,
de o meu efêmero sonhar.

Quem é você, afinal?