Justa Intolerância

Quero escrever linhas que me arranquem do peito uma dor,

Uma imobilidade, um desconforto, uma falta de cor e sabor

Arrancar como quem chuta uma pedra do calçamento

A sair rolando e fazendo barulho pelo chão de cimento

E incomodando a quem passa por perto, fazendo olhar torto

Que se dane, não quero mais sentir vontade de me fingir de morto

Quero falar palavras que incomodem a mim e a todos vocês

E fazer todos sentirem aquele velho desconforto mais uma vez

Quero um texto cruelmente afiado para cortar nossas vidas

Uma escrita intencionalmente engendrada para abrir feridas

Outrora fui calmo, pacífico e sereno. Não mais, agora é o caos

Vou revirar vosso lixo e rever os seus erros, os bons e os maus.

Quero atacar suas certezas e engrandecer suas inseguranças

Vocês que vivem de embalar ninharias tal qual fossem crianças

E proteger neuroses, e conquistar futilidades, e elevar absurdos

Empilharemos nossos ódios cegos e teremos nossos motivos mudos

Em nome desse desconforto, que nos devora e nos torna devedores

Em débito com a vida, com nossa existência e com nossos amores.

Quero matar sua cultura de vício, de medo, de ansiedade

Trazer ao chão e pisotear suas desculpas, espalhá-las pela cidade

Vamos sair pelas ruas exibindo seus erros, quer queira quer não.

Estaremos armados com todas as suas reclamações nas mãos

Será esse o dia em que pra seu governo, sua realidade cairá

Nas mãos da minha tolerância que ali, acaba por terminar.