Noites de chuva fazem sangrar

Naquele momento eu descobri uma verdade:

noites de chuva fazem sangrar.

Contemplando a solidão revestida naquele olhar,

- para não romper com o inevitável -

Eu deixei a chuva cair.

Ainda hoje recebo seus pingos ácidos.

Na varanda de meus pensamentos ocultos,

a dor renasce silente e pura, quase branca,

transformando meus dias em ofertas vãs.

As horas são versículos sem santidade

que o vento da noite atrofia os sentidos.

Soturnos são os contornos da existência.

Transcrevo a noite com meus passos secos.

Sinto tocar no rosto, unindo às lágrimas,

A mesma chuva que nasceu outrora

e molhou meu rosto com segredos.

Meus mortos cantam fados antigos.

As ruas são tão intimas de quem nada tem.

Sou um herdeiro de moléstias ancestrais

caminhando demente com meus sapatos sujos.

Danço molhado e louco como naquele velho filme

Onde ainda ousam felicidades.

A chuva cai desconhecendo tudo.

Esquecer é uma dádiva que não disponho.

Amaldiçoado estou pela vivida memória do tempo,

por todas as chuvas, por todos os sentidos em combustão.

Meus versos dormem ao relento.

Meu corpo é a continuação da sarjeta que fiz morada.

E a chuva cai, contínua, inquiridora,

Lembrando sempre o axioma maldito:

noites de chuva fazem sangrar, sempre.

Roniel Oliveira
Enviado por Roniel Oliveira em 11/12/2014
Código do texto: T5065692
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