O grito

Nenhum sarcasmo já me serve de escape

Parece em vão a fim de exclamar minha pobre condição

Tampouco eufemismos o ocultar minha tristeza

Monólogos malucos pela madrugada

Nada é capaz de atenuar o meu sofrer

Sem nunca pisar pela superfície plana da prosperidade

Pois sempre a escuridão e espinhos foram favas contadas

E assim, a vida me escapa, se perde no curso arbitrário do destino

Nesse itinerário confuso da existência

Necessidades orgânicas, projetos, sonhos

Tudo sucumbe à calamidade do conformismo

Quando o futuro é mera ilha submersa

Onde céu azul cai pôr terra

No simples dissabor de ver ao alvorecer

Porque “viver” se conjuga como muito suplício

Talvez o ensaio a melancólica despedida

Num latifúndio infinito chamado mundo

Embora com toda sua imensidão

Torna-se pequeno demais a minha presença

Visto é que grande o vácuo entre nós:

Não cabe nele o provincianismo, a timidez e os escrúpulos

Deste que escreve esses tortos versos

Uma ruptura brusca se aproxima... Dar-se-á a mim sentença

Essa aura cristalina que em cabe tão bem

Foi o agouro de minha própria ruína

Pois toda vida me desviei das patologias terráqueas:

Do efêmero, de seus imediatismos tolos

Ainda que sem simples recompensa verbal

Não obstante somente o escárnio se fez cativo

Meus murmúrios evocam a renuncia

A denúncia sincera da ausência de si mesmo

Posto que nunca pude viver sob o signo do amor

Sob a beleza que se abre ao coração deserto

Tão árido da chama que enleva a alma ao paraíso

Sinônimo explícito de encantamento inume ao tempo e ao risco

E aos planos ardilosos do pretenso destino

Alex Melloh
Enviado por Alex Melloh em 21/01/2018
Código do texto: T6232490
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