Lágrimas de sal

Me diga algo antes que o sol ilumine a noite,

para que seja a nossa luz a brilhar nas trevas,

um sentimento a aquecer a frieza instalada,

algo que a tire das sombras em te escondestes,

jogando jogos atrás de muros de concreto,

perdendo-se em quartos espelhados,

onde teu reflexo não é reproduzido,

onde nem os fantasmas à reconhecem,

diga-me porque se desfaz em brumas,

silencia voz e coração como um papel em branco,

esqueces de tudo o que compartilhamos em noites assim?

apagas da memória sorrisos que não destes com ninguém mais?

nós tínhamos tantos sonhos e tantos planos,

caminhadas pelos parques, viagens em trens europeus,

deslizando em gelo fino com patins de inverno,

fomos tão felizes o quanto pudemos ser,

fomos tão um do outro o quanto nos permitimos ser,

e de repente tudo se afogou num grande redomoinho,

mesmo que eu te acenda a luz do farol todos os dias,

somente o vazio me retorna no bumerangue da vida,

deixastes simplesmente de ter o que me dizer?

refizestes teus passos com uma pá de cal no passado?

nosso uníssono tornou-se um emudecido destino,

nas lágrimas de sal de uma solidão eterna,

em mãos ásperas que esmurram um saco de areia,

quando nem ao menos um triste adeus foi emitido,

tudo o que restou foram poesias melancólicas na madrugada,

palavras de uma alma imersa nos ventos de sua incompletude...